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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]
Ferragens à moda antiga
Comércio de ferramentas no Butantã guarda o charme do tempo em que loja era "casa"
TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É cada vez mais assim: quando determinada mania ou formato varre um setor do comércio, cedo ou tarde a maioria dos
estabelecimentos implicados
acaba aderindo.
Um bom exemplo são as padarias de São Paulo. Em anos
recentes, as antes tímidas fornecedoras locais de pão e cerveja se converteram massivamente em superpotências com
gôndola gourmet, pizzaria acoplada e filiais.
Nada contra a renovação,
principalmente quando ela
vem para ressuscitar endereços
já riscados de nosso caderninho e/ou traz junto uma melhora nos serviços. Mas tudo
contra a tendência tediosa à
uniformização e, mais ainda, à
extinção sumária de formas de
comércio que, afinal, não tinham nada de tão errado assim.
Do tempo em que loja bacana
se chamava "casa", a Tamoio
vai na contramão. Fundada em
1948, como explica o singelo
mural comemorativo pendurado perto do seu balcão, ela se
mantém firme no ramo das
"ferragens", esse recorte genérico e antigão que inclui ferramentas, materiais de construção e adjacências.
Como se não houvesse a menor razão para mudar, conserva também os balcões de fórmica e vidro, os vendedores que
nos esperam do outro lado e até
os passarinhos que os donos
criam no fundo.
Menos feérica e gigantesca
que as concorrentes atuais, se
defende surpreendentemente
bem na oferta. De parafuso a
torno, de sifão a fogão a lenha,
de arame a alambrado, não há
desejo recôndito no mundo das
construções, reformas e jardinagens que a loja não seja capaz
de produzir.
Tem vassoura de palha?
Tem. Tem enxada? Tem. Tem
número para a porta da casa?
Tem também. E lá vai o vendedor atrás das coisas nas estantes que chegam ao teto alto, servidas por escadas de biblioteca,
ou na infinidade de gavetinhas
que cobrem as paredes.
Fascinante desde os objetos
insondáveis expostos nas vitrines, como polias, conversores
de corrente e moedores de
grãos, a Tamoio lembra o tempo não tão distante em que o
bairro do Butantã era uma região rural. Lembra também outro, mais próximo, quando o
"sirva-se quem puder" ainda
não era a regra. Por todas essas,
e pelo charme, a loja devia ser
tombada como patrimônio histórico da cidade.
ONDE ENCONTRAR
Casa Tamoio
av. Vital Brasil, 617, Butantã
tel. (11) 3814-7633, São Paulo
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