São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]

Ferragens à moda antiga

Comércio de ferramentas no Butantã guarda o charme do tempo em que loja era "casa"

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É cada vez mais assim: quando determinada mania ou formato varre um setor do comércio, cedo ou tarde a maioria dos estabelecimentos implicados acaba aderindo.
Um bom exemplo são as padarias de São Paulo. Em anos recentes, as antes tímidas fornecedoras locais de pão e cerveja se converteram massivamente em superpotências com gôndola gourmet, pizzaria acoplada e filiais.
Nada contra a renovação, principalmente quando ela vem para ressuscitar endereços já riscados de nosso caderninho e/ou traz junto uma melhora nos serviços. Mas tudo contra a tendência tediosa à uniformização e, mais ainda, à extinção sumária de formas de comércio que, afinal, não tinham nada de tão errado assim.
Do tempo em que loja bacana se chamava "casa", a Tamoio vai na contramão. Fundada em 1948, como explica o singelo mural comemorativo pendurado perto do seu balcão, ela se mantém firme no ramo das "ferragens", esse recorte genérico e antigão que inclui ferramentas, materiais de construção e adjacências.
Como se não houvesse a menor razão para mudar, conserva também os balcões de fórmica e vidro, os vendedores que nos esperam do outro lado e até os passarinhos que os donos criam no fundo.
Menos feérica e gigantesca que as concorrentes atuais, se defende surpreendentemente bem na oferta. De parafuso a torno, de sifão a fogão a lenha, de arame a alambrado, não há desejo recôndito no mundo das construções, reformas e jardinagens que a loja não seja capaz de produzir.
Tem vassoura de palha? Tem. Tem enxada? Tem. Tem número para a porta da casa? Tem também. E lá vai o vendedor atrás das coisas nas estantes que chegam ao teto alto, servidas por escadas de biblioteca, ou na infinidade de gavetinhas que cobrem as paredes.
Fascinante desde os objetos insondáveis expostos nas vitrines, como polias, conversores de corrente e moedores de grãos, a Tamoio lembra o tempo não tão distante em que o bairro do Butantã era uma região rural. Lembra também outro, mais próximo, quando o "sirva-se quem puder" ainda não era a regra. Por todas essas, e pelo charme, a loja devia ser tombada como patrimônio histórico da cidade.


ONDE ENCONTRAR

Casa Tamoio
av. Vital Brasil, 617, Butantã tel. (11) 3814-7633, São Paulo




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