CINEMA

Speed Racer

Longa indica futuro do cinema na era digital

Ricardo Calil

"Speed Racer", adaptação do clássico desenho animado japonês dos anos 1960, com direção dos irmãos Wachowski (da trilogia "Matrix"), vale mais pelo que indica sobre o futuro do cinema do que pelo produto que oferece aos espectadores.

Ao lado de "Sin City", "300" e "A Lenda de Beowulf", entre outros, o lançamento aponta para um cinema que vem se tornando um híbrido entre filmagens com atores de carne e osso e seqüências criadas no computador, no qual as partes são cada vez mais indissociáveis.

Se antigamente falava-se em cinema de estúdio, hoje poderia-se falar em cinema de "chroma key" (a tela verde ou azul à frente da qual os intérpretes fazem uma cena, para depois serem "recortados e colados" sobre outros cenários). "Speed Racer" foi praticamente todo filmado dessa forma, assim como os outros filmes citados acima.

Mas talvez esse seja o produto que leva mais longe a idéia de um rompimento com o realismo, com o uso dos efeitos especiais não para criar mundos críveis, e sim universos total mente novos -em um retorno modernizado ao velho conceito de cinema como fábrica de sonhos.

Por isso, as pistas de corrida do longa não lembram as dos autódromos da vida real nem as do desenho original -e sim uma mistura entre autoramas infantis e suas versões em videogame.

Por elas, desliza Speed (Emile Hirsch), jovem corredor que não compete apenas contra seus adversários, mas também com a memória do irmão morto. Para enfrentar uma corporação que arranja resultados de corridas, ele irá se associar ao misterioso Corredor X (Matthew Fox) e tentar vencer o rali no qual seu irmão desapareceu.

Mais do que a trama -uma condensação da história do desenho original, voltada mais para as crianças e os adolescente do que para os adultos- vale prestar atenção no visual do filme e tentar entender a mensagem que ele carrega consigo: para um mundo em que o real e virtual se confundem cada vez mais, um cinema idem.