CINEMA

Agente 86

Adaptação esvazia humor da série original

Sérgio Rizzo

Os comediantes Mel Brooks e Buck Henry ainda buscavam um lugar ao sol em Hollywood quando criaram, em 1965, o seriado "Agente 86". O sucesso do personagem, que durou cinco temporadas e 138 episódios, deu um empurrão decisivo na carreira de ambos: Brooks deslanchou com "Primavera para Hitler" (ou "Os Produtores", 1968), que escreveu e dirigiu, enquanto Henry assinou o roteiro de "A Primeira Noite de um Homem" (1967).

Houve tentativas de ressurreição em 1980 (com o longa "A Bomba que Desnuda"), em 1989 (com o telefilme "Agente 86... De Novo?") e em 1995, com um novo seriado, que naufragou depois de sete episódios. Em todas, Don Adams (1923-2005) voltava a interpretar Maxwell Smart, o desastrado agente do Controle, braço secreto da inteligência norte-americana que enfrentava a Kaos, seu congênere soviético.

O espírito de sátira da Guerra Fria que ridicularizava também os espiões do cinema (James Bond, em especial) foi mantido, ainda que não haja mais conflito ou URSS, na superprodução "Agente 86", realizada sem a participação de Brooks e Henry (que apenas negociaram os direitos sobre os personagens).

Cabe à tecnologia atualizar o universo do seriado, com os objetos precários que sustentavam as "gags" originais substituídos por aparatos modernos, mas também problemáticos.

Para afastar a sombra de Adams, inimitável, Steve Carell ("O Virgem de 40 Anos", "Pequena Miss Sunshine") faz um Smart menos obtuso e incapaz, enquanto Anne Hathaway ("O Diabo Veste Prada") cria uma Agente 99 também mais independente, arguta e sensual do que a consagrada na TV por Barbara Feldon.

A matriz do humor, no entanto, continua a mesma, mas agora parece um tanto esvaziada, depois de quatro décadas de imitações.

Censura: 12 anos.