CINEMA

O Passado

Babenco trata drama como terror psicológico

Ricardo Calil

Baseado no romance do argentino Alan Pauls e dirigido por Hector Babenco, "O Passado" poderia ser descrito, de maneira bastante sucinta, como a história de um homem (Gael García Bernal) que se vê perseguido pela ex-mulher (Analía Couceyro) nas suas relações seguintes.

A princípio, um material perfeito para o melodrama, o gênero latino-americano por excelência, com suas tramas de abandono, ciúmes, vingança e morte, urdidas pelo cineasta com delicadeza inédita em sua obra.

Mas a jogada de mestre de Babenco é dar a esse material o tratamento (igualmente suave) de um terror psicológi co, no qual a ex-mulher não é uma vilã clássica, mas sim a encarnação do monstro impalpável que persegue, amedronta e paralisa o frágil herói -justamente o passado. Na ânsia de escapar dele, Rímini (Bernal) renuncia a tudo, até mesmo a suas memórias.

Babenco situa "O Passado" menos no terreno de um dramalhão mexicano, como "As Abandonadas" (1944), e mais no de um sofisticado terror, como "O Bebê de Rosemary" (1968). Como a mulher que tem um filho com o diabo no clássico de Roman Polanski, Rímini deverá entender que, para superar seu maior temor, é preciso antes acalentá-lo.