CRIANÇA

Carros

Animação da Pixar resgata valores antigos

Ricardo Calil

Entre todos os desenhos da Pixar, "Carros" é aquele que ficou mais distante da unanimidade crítica e dos recordes de bilheteria nos Estados Unidos. Mas a recepção morna foi uma injustiça dos americanos. O lançamento merece figurar entre os melhores longas da empresa, ao lado de "Toy Story" (95) e "Procurando Nemo" (03).

Como outros filmes da produtora, "Carros" tem elementos para atrair adultos e crianças. Apesar de se passar em um universo considerado masculino, também pode agradar a homens e mulheres -o que o torna um programa de férias ideal.

Na história, Relâmpago McQueen (voz de Owen Wilson), um carro de corrida jovem e narcisista, viaja a Los Angeles para a corrida final de um grande campeonato. No caminho, porém, ele é preso por excesso de velocidade na pequena cidade de Radiator Springs.

Com relutância, o carro de corrida se envolve com os automóveis locais, como a bela Sally (voz de Bonnie Hunt na versão original, Priscilla Fantin na brasileira), o juiz Doc Hudson (Paul Newman/Daniel Filho) e o velho reboque Mate. Com eles, McQueen aprende que amizade e caráter podem ser mais importantes que sucesso e prêmios.

Dirigido por John Lasseter, chefão da Pixar, "Carros" se baseia em um paradoxo essencial ao estúdio: de um lado, a produtora aponta para o futuro da animação digital; do outro, promove um resgate da Hollywood clássica, tanto na construção artesanal do roteiro quanto na defesa dos valores americanos.

Mesmo com várias referências pop, "Carros" reedita as fábulas morais de Frank Capra, como "A Felicidade Não se Compra" (46). Como poucos diretores hoje, ele domina a fórmula do equilíbrio entre humor e sentimentalismo.