TEATRO

Vestido de Noiva

Satyros encenam clássico rodrigueano

Maria Eugênia de Menezes

Passados mais de 30 anos, Norma Bengell volta a interpretar madame Clessi. A atriz, que participou da remontagem de "Vestido de Noiva", em 1976, encarna novamente a mítica personagem na versão que Os Satyros apresentam a partir de hoje (dia 8), no Itaú Cultural. O impulso para retomar o texto de Nelson Rodrigues surgiu em julho do ano passado, quando o grupo organizou uma leitura dramática da peça. Já nesta ocasião, a obra ganhava outras tonalidades, proposta que seria radicalizada pelo diretor Rodolfo García Vázquez na mise-en-scène.

Todas as referências ao subúrbio carioca -universo que caracteriza a dramaturgia do autor- foram retiradas da narrativa, que passou a ser impregnada pela dicção bastante peculiar da companhia. "Outros grupos seriam mais eficientes para retratar esse subúrbio. Optamos por trazer o texto para um universo mais próximo do nosso", diz Vázquez. No lugar dos sambas, a trilha sonora traz canções dos contemporâneos PJ Harvey, Radiohead e Björk. Projeções de imagens pré-gravadas, filmes antigos e legendas também ajudam a compor o clima onírico e algo expressionista da trama, que trata dos delírios e lembranças de Alaíde, uma mulher à beira da morte.

Quando imaginou para "Vestido de Noiva" o processo de ações simultâneas, em tempos diferentes, o próprio Nelson Rodrigues não previa a revolução que estava prestes a inaugurar no teatro nacional. Em sua arquitetura cênica, Vázquez quebra a estrutura em três planos (realidade, memória e alucinação) que consagrou o autor, mas não se desvia do desenho da tragédia e continua a conduzir o espectador pela psique em colapso da protagonista.