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DE 18 A 24 DE AGOSTO DE 2006

 

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TEATRO

O Avarento

Paulo Autran retoma Molière em 90ª peça

Pedro Ivo Dubra

Paulo Autran, 83, voltou aos clássicos. Desde 1996, quando montou o shakespeariano "Rei Lear", o ator se encontrava afastado do território da dita literatura universal, abandonada em detrimento da encenação de autores contemporâneos nacionais e estrangeiros. A partir de amanhã (dia 19), o carioca radicado em São Paulo encampa "O Avarento", texto de Molière que inicia temporada no palco do teatro Cultura Artística. Trata-se da 90ª montagem de Autran, que iniciou a sua carreira nos anos 40.

O artista convidou para traduzir, adaptar e dirigir a obra do comediógrafo francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière (1622-1673), um encenador bem pouco clássico. O carioca-curitibano Felipe Hirsch, 34, notabilizado por levar à cena espetáculos calcados em quadrinhos de Will Eisner, em peça de Will Eno e em romance de Nick Hornby, entre outras empreitadas, assina a sua primeira montagem fora de seu grupo, a Sutil Companhia de Teatro. "Felipe é um encenadores que mais admiro. E ele não grita. Não agüento mais diretor que grita", afirma Autran. "Ele é uma criança. Tive uma relação igual às que tive com qualquer outro ator com que já trabalhei. Na idade dele, ele poderia ser um acúmulo de certezas, mas é muito curioso", pondera Hirsch.

A parceria tem o mérito de mostrar facetas distintas do par de criadores. Paulo Autran surge diverso de aparições recentes, mais impetuoso e posto num figurino menos certinho. Felipe Hirsch, por sua vez, incensado por uma platéia jovem que se acostumou a projeções de imagens e a trilhas sonoras de acento pop, sobressai mais artesanal e concentrado. "Quis fazer uma "arena de atores'. Já misturei mais as linguagens, hoje estou apaixonado pelo teatro, pelo fazer teatral."

A peça conta até com as tradicionais pancadas do bastão da época de Molière -expediente anterior às campainhas elétricas que são escutadas hoje antes de a sessão começar. O cenário de Daniela Thomas é formado por caixas postas contra um fundo pintado que evoca um céu azul.

Em tal cenografia, é descortinada ao público a avareza de Harpagon, personagem vivido por Paulo Autran. O velho é obcecado por dinheiro, o que obscurece o seu interesse pelos filhos, às voltas com namoros prejudicados pela sovinice paterna. Antes de tudo começar, Felipe Hirsch teve a idéia de propor um prólogo. Um ator (Tadeu di Pyetro) entra em cena com um jornal que traz na manchete os ataques do PCC. "Perceba a violência das palavras de Molière", sugere à reportagem doGuia, durante o ensaio, um empolgado Hirsch. Ele afirma ter buscado evitar um tratamento museológico, reverente, ou o que costuma ser o seu contrário perfeito: a desconstrução pura e simples do clássico, que acaba virando apenas um pretexto para releituras vaidosas.

"Molière trata dos piores vícios do ser humano. Mostra o lado ridículo e, ao mesmo tempo, trágico", considera Autran, que já montou "O Burguês Fidalgo" (em 1968), "As Sabichonas" (1971) e "Tartufo" (1985). ""O Avarento' é o auge da obra de Molière", completa Felipe Hirsch.

Para encarnar o irritadiço e obsessivo Harpagon, Paulo Autran precisará de fôlego adicional. Ele reconhece que os cigarros que fuma sem parar desde os 23 anos de idade atrapalham o seu trabalho. "Fumar é péssimo", diz, praticamente acendendo um cigarro no outro.

Cultura Artística - sala Esther Mesquita (r. Nestor Pestana, 196, Consolação, região central, tel. 3258-3344). 1.150 lugares. Sáb.: 21h. Dom.: 18h. Até novembro. 100 min. 12 anos. Ingr.: R$ 30 a R$ 80. CC: todos. Estac. (R$ 9 p/ 3h).A C D T
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