Grosseria dentro de hospitais gera ainda mais hostilidade

Conselhos de enfermagem colecionam casos de todo tipo de violência contra esses profissionais

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Nos últimos anos, tenho frequentado muitos hospitais, felizmente, na maioria das vezes na condição de visitante ou de acompanhante.

No domingo à noite, visitava minha amiga-irmã internada no Hospital AC Camargo. Com metástases no pulmão, ossos e meninge, ela tem sentido dores horríveis só contidas (por curto período de tempo) com morfina.

Enfermeira regula equipamento respiratório em UTI de hospital - Na Lata

Enquanto conversávamos, eu massageava os pés dela na tentativa de lhe trazer algum conforto. Uma das enfermeiras de plantão, muito atenciosa, brincou: "daria tudo para ganhar uma massagem dessas". 

 

Respondi que ela bem que merecia uma massagem nos pés para encarar o plantão que iniciava. E, se fosse permitido, eu mesma poderia fazer. Ela deu uma risada, agradeceu e saiu.

Sou fã do pessoal da enfermagem, gente de fundamental importância dentro de um hospital e que nem sempre é valorizado.

Pelo contrário. Os conselhos de enfermagem colecionam casos e mais casos de todo tipo de violência contra esses profissionais que estão na linha de frente dos cuidados. De má remuneração e sobrecarga de trabalho a violência física e psicológica.

E, claro, a corda sempre arrebenta para o lado deles. Ninguém pensa no erro como algo sistêmico, que diz respeito a todos. Em geral, erros graves (como troca de medicação) ocorrem porque há problemas de processos, de checagens e rechecagens dentro da instituição. 

Eu mesma presenciei um erro desses há duas semanas. Minha irmã estava internada em um hospital na Lapa (zona oeste de São Paulo) e a enfermeira chegou para repor o antibiótico e o antiinflamatório que ela estava usando.

Ao perceber que só havia uma medicação, minha mana questionou a enfermeira. A profissional percebeu então que a colega havia aplicado o antiinflamatório da minha irmã na paciente que estava na cama ao lado. Correu e desfez o erro.

Por sorte, tudo acabou bem. Mas não dá para contar com a sorte quando se trata de cuidados médicos. Existem hoje protocolos muito bem definidos para minimizar erros dentro dos hospitais.

E também é muito salutar que o paciente (ou o acompanhante) fique atento durante esse cuidado. Nunca se esquecendo, é claro, de que errar é humano e que partir para a grosseria pode piorar a situação.

Um estudo citado recentemente na coluna do médico Perri Klass, no jornal "The New York Times", mostra que a hostilidade por parte de familiares de pacientes pode afetar as habilidades médicas ou a capacidade de tomada de decisões.

Outros estudos revelam que a hostilidade entre os próprios profissionais (chefes que maltratam subordinados) também trazem impacto negativo não só para os que sofrem diretamente o bullying (como depressão e ansiedade), mas também para os pacientes que eles vão cuidar.

Ou seja, em qualquer situação, grosseria tende a gerar mais grosseria, raiva, estresse e desejo de revanche, mesmo que inconscientemente. E se existe um local que, definitivamente, não precisa desses sentimentos negativos esse lugar é o ambiente hospitalar.

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