O B dos Brics encolheu, queridos
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Alyssa Ayres, pesquisadora-sênior do Council on Foreign Relations para Índia, Paquistão e sul da Ásia, está lançando um livro no qual conta como "a Índia em ascensão quer agora um assento à mesa dos poderosos globais".
À Folha, Alyssa contou que dedica espaço na obra aos Brics (Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul) e diz que, em sua opinião, "a criação e institucionalização dos Brics é um importante componente do desejo da Índia de ter uma voz mais ampla na governança global".
Pena que o B dos Brics, o Brasil, tenha minguado consideravelmente nesse período de institucionalização do grupo.
À parte a África do Sul, que nem era membro original dos Brics, o Brasil é o único dos países membros que foi ficando para trás.
A evolução do C, a China, já é um fenômeno relativamente antigo. Hoje, ela é até considerada a segunda potência mundial, o que carrega um certo exagero: de fato, a economia chinesa pode ser a segunda maior do mundo, após a americana, mas em renda per capita, a China é apenas a 15ª entre os países do G20.
Está praticamente empatada com o Brasil (ambos na faixa de US$ 15 mil por pessoa, de acordo com a tabela divulgada pelo governo alemão quando da mais recente reunião do G20, em 2017).
De todo modo, ninguém discute que a China está disputando a liderança mundial com os Estados Unidos.
O livro de Alyssa Ayres serve para chamar a atenção para a evolução do I dos Brics, o da Índia. Tem sido uma constante nos anos recentes. Na mesma tabela do G20, China e Índia lideram com folga o crescimento da economia entre 2010 e 2016: a China cresceu 56% no período, e, a Índia, 48%.
Já o Brasil ficou no penúltimo lugar, com só 2%, à frente apenas da Itália (menos 2%).
Economia à parte, o R de Rússia, que também foi mal nessa área, avançou no entanto no tabuleiro geopolítico global. Avançou de maneira truculenta, é verdade, como costumam fazer as ditaduras, mas avançou.
Tomou um pedaço da Ucrânia (a Crimeia) e tenta tomar outro (o chamado Donbass, a bacia de Donetsk/Lugansk), além de ter sido fundamental para a consolidação do ditador sírio Bashar al-Assad.
O Brasil, que não é ditadura nem tem "hard power" suficiente, não conseguiu nem usar o "soft power", poder de influência, para ajudar a Venezuela a sair do seu inferno.
Na avaliação sobre o Brasil, realizada a pedido da Folha, Alyssa Ayres foi simpática (ou condescendente, a critério do leitor): disse que "o Brasil tem um papel especial a desempenhar, como uma grande democracia, como a Índia, na busca de maior equidade nas instituições globais".
Tem toda a razão. Mas o empenho do Brasil nessa direção, que foi intenso nos anos Lula (2003-10), arrefeceu com Dilma (2011-16), a partir da crise econômica, e mais ainda com Temer, empenhado apenas em sobreviver politicamente e ressuscitar a economia moribunda.
É frustrante que não se possa escrever, a respeito do Brasil, o que Alyssa Ayres afirma em seu livro sobre a Índia: "Mais do que em qualquer outro momento no último quarto de século, a Índia está a caminho de ser um poder global".