Doria fiscaliza até banheiro feminino no Carnaval
O prefeito recebe convidados no Sambódromo
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O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), vai direto para o banheiro quando entra na sala reservada a ele no camarote da prefeitura no Sambódromo. "Ele checa tudo. Vistoria o banheiro das mulheres também. Cê não conhece!," diz David Barioni, presidente da SPTuris, que organiza o Carnaval.
No ano passado, quando os desfiles das escolas de samba estavam chegando ao fim, Doria falou ao ouvido de Barioni: "Está tudo maravilhoso. Mas não tinha cestinho de lixo na pia do banheiro".
Neste ano, tinha cestinho em todas as pias. O próprio Barioni checou cada detalhe antes de Doria chegar, inclusive as descargas.
O Carnaval neste ano em SP movimentou R$ 18 milhões, diz Barioni, só de recursos de patrocinadores para organizar a festa de rua. Mais de 20 mil banheiros químicos foram instalados.
Ele interrompe de novo a conversa e pergunta à namorada, Carla Pimenta: "A geladeira tá ligada?". Em 2017, Doria encontrou as bebidas quentes. "Imagina a felicidade dele", diz Barioni, que é amigo do prefeito há décadas.
Doria volta a circular entre convidados. É cercado para tirar fotos. "Ele não vai gostar desse fundo, tá vazio", diz uma assistente a Daniel Braga, que cuida da imagem de Doria nas redes sociais. Ele desloca o tucano para um enquadramento melhor, em que possam aparecer imagens do camarote lotado.
"Oi, governador, diz uma mulher." O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), que defende a candidatura de Doria para o cargo hoje ocupado por Geraldo Alckmin, se aproxima."Fez o contato com o governador?" O prefeito diz que sim. Os dois devem se reunir nos próximos dias.
Alckmin tem sinalizado que prefere a candidatura única do vice-governador Márcio França (PSB-SP) para sucedê-lo. A situação é tensa entre ele e o prefeito, que quer disputar o cargo.
"Obrigado por terem vindo", repetia Doria enquanto posava para selfies. "Acelera São Paulo!"
"Prefeito, sou da água Ouro Fino [uma das patrocinadoras do espaço]. Queria tirar uma foto ali [em frente a um cartaz] com as marcas", diz o representante da empresa. Doria atende prontamente. Obrigado pela parceria, diz.
Uma mulher faz reclamação sobre o bairro do Butantã. "Você tem que falar com o prefeito regional", diz Doria. "Vou te apresentar para ele", afirma o tucano, enquanto vira as costas e continua tentando andar. "No Butantã tem muita cobra", comenta com um assessor.
Ao contrário do que fez em 2017, em que pulou dentro do Sambódromo e chegou a varrer a passarela dos desfiles, Doria desta vez preferiu ficar longe da avenida.
TÁ UMA CONFUSÃO DANADA
"Vai falar com o Gil", diz, em tom de brincadeira, o sambista Zeca Pagodinho, 59, que cantou com o baiano no camarote Brahma na madrugada de sábado (10).
Gilberto Gil está a mil. Além do show, ele ainda desfilaria pela Vai-Vai no domingo (11), participaria de um bloco no centro de SP na segunda (12) e na terça (13) sairia no Afoxé Filhos de Gandhy, em Salvador.
Folha - Pelo visto a saúde está ótima.
Gilberto Gil - Graças a Deus!
O que está achando do Carnaval deste ano?
Eu tenho a impressão que o Carnaval, no ano passado, se ressentiu muito da situação geral do Brasil. Esse ano ele já retomou sua autonomia. Eu tenho essa sensação.
O senhor acha que país está melhorando?
Tem um lado do Brasil que está bom sempre.
Que lado é esse?
É um lado que não é necessariamente territorializado.
Está em fragmentos e o Carnaval é um desses fragmentos importantes. Especialmente todas essas coisas que pertencem à dimensão da celebração, da alegria. Nesse sentido o Brasil está sempre bem.
E na política?
A política tá uma confusão danada. Não só no Brasil, né? O mundo está complicado.
O que achou da condenação do Lula?
Controversa. Há aspectos que por causa do envolvimento, em torno dele, de várias irregularidades etc. Mas tem o aspecto jurídico, propriamente, que é controverso. Há opiniões categóricas que dizem que ele não deveria ser condenado. O lado político parece prevalecer com mais força do que o jurídico.
Chegou a falar com ele?
Depois da primeira condenação, sim. Dessa segunda instância, ainda não. [Vou falar com ele] Na hora em que eu encontrá-lo.
Como será 2018?
Igual a todos os outros anos. Vive-se. Morre-se. Tem que viver de um jeito bonito.
OS DEDOS GELADOS DE ELLEN ROCCHE
Depois de saudar a bateria da Unidos do Peruche, escola que o homenageia neste ano, Martinho da Vila, 80, é conduzido com pressa até um carro alegórico, onde desfilaria em pé.
"O Carnaval de SP cresce a cada ano. Não vejo diferença com o Rio", diz ele antes de ser empurrado sobre uma máquina que o eleva até seu lugar. Martinho se dobra todo para passar em uma abertura estreita. Sua mulher, Cléo, fica para trás. No Rio não tem isso, é mais profissa, comenta alguém.
Do chão, cinco dos oito filhos que o sambista têm gritam: "Cuidado, pelo amor de Deus!". Ele acena e logo se senta no chão da plataforma, esperando o desfile.
"Dá um pontinho aqui!", pede Sheila Mello quando chega diante da bateria da Independente Tricolor, da qual é madrinha. A fantasia, feita de tiras de tecido, está se desfazendo bem no bumbum. Um homem se ajoelha e faz o reparo.
Sócio de um camarote, Caio Castro faz uma tatuagem durante a festa, no estúdio montado dentro do espaço. O desenho combina a palavra career (carreira), o símbolo rec (gravando) e raios de sol coloridos.
A intenção da atração, diz, é "proporcionar uma experiência aos foliões". E dói? "Porra! Você viu que eu não consigo nem sorrir?", diz ele.
A Rosas de Ouro é a penúltima a desfilar, às 4h40. Ellen Rocche, madrinha da bateria, chega de roupão e termina de vestir a fantasia na avenida.
Apesar da experiência que tem em desfiles de Carnaval, está nervosa. "Olha minha mão!", diz, agarrando o braço do repórter com os dedos gelados.