A assustadora doutrina Trump

Crédito: Carlos Barria - 10.jan.2018/Reuters O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de entrevista coletiva no dia 10 na Casa Branca

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As reportagens sobre o best-seller "Fire and fury" se concentraram nas (assustadoras) revelações sobre o estado mental do presidente Donald Trump e na (pouca) credibilidade do autor do livro, Michael Wolff.

Ficaram perdidos na discussão os relatos (igualmente assustadores) sobre o processo decisório de Trump para a política externa dos Estados Unidos.

Quando se trata de política externa, Trump não segue a "construção de nação e exportação de democracia" dos neoconservadores de George W. Bush, nem a abordagem de "liderar dos bastidores (leading from behind)" e "não fazer bobagem" de Barack Obama, e muito menos o "globalismo" e "expansão dos livres mercados" de Bill Clinton.

A política externa de Donald Trump também não é isolacionista e "América em Primeiro Lugar", como ele mesmo alardeia. Trump segue uma política externa "aleatória e desinformada", segundo "Fire and fury".

Como é sabido, a pessoa mais poderosa na Casa Branca hoje é aquela que fala por último com Donald Trump, já que o presidente sempre segue o último conselho que ouve. Mas alguns conselhos antigos reverberam na cabeça do republicano.

Ele foi evangelizado pelo ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn sobre a perfídia do Irã. Então a lente pela qual Trump enxerga o oriente Médio é: o Irã é mau. Os amigos do Irã são maus. Os inimigos do Irã são bons.

Tudo de acordo com o grande princípio da realpolitik trumpiana: "o inimigo do meu inimigo é meu amigo".

Isso explica que seu BFF seja o príncipe saudita Mohammed bin Salman, o MbS. MbS pode bombardear civis no Iêmen à vontade, fazer bullying contra o primeiro-ministro libanês, boicotar o Qatar, que abriga a maior base americana no Oriente Médio. Não importa, Trump não faz nem críticas protocolares. Inimigo do Irã é meu amigo.

Segundo o livro, o Oriente Médio de Trump se resume a quatro países —Israel, Egito, Arábia Saudita e Irã. De novo, a abordagem é maniqueísta —Irã mau. O resto, bom.

De acordo com Wolff, a doutrina Trump divide o mundo entre: "países com os quais a gente pode trabalhar, países com os quais a gente não pode trabalhar, e países sem poder suficiente, que podem ser ignorados ou sacrificados".

Ainda segundo ele, Trump acredita piamente que, em troca do apoio americano, o Egito e a Arábia Saudita vão pressionar os palestinos a fechar um acordo de paz com Israel. E que os palestinos vão ceder.

Em um encontro com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, Trump teria puxado o colega de lado e dito, encarnando Pelé ou Hulk: "Trump vai fazer a paz."

É, e o pessoal preocupado porque o presidente dos EUA come cheeseburger na cama e sempre repete as mesmas histórias.

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