Em livro, ex-assessor de Trump diz que reunião com russos foi "antipatriótica"

Crédito: Carolyn Kaster - 29.abr.2017/Associated Press
Steve Bannon, ex-estrategista chefe da Casa Branca, em evento na Pensilvânia

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

Em um livro ainda inédito sobre os bastidores da Casa Branca no governo de Donald Trump, um dos principais assessores do presidente, Steve Bannon, afirma que a reunião do filho do presidente, Donald Trump Jr., com uma informante russa durante a campanha eleitoral de 2016 foi "traidora", "antipatriótica" e "uma merda".

"Eles deveriam ter chamado o FBI imediatamente", afirmou Bannon ao jornalista Michael Wolff, autor de "Fire and Fury" (fogo e fúria, em tradução literal).

O livro, a ser lançado na semana que vem, foi obtido em primeira mão pelo jornal inglês "The Guardian", que divulgou trechos nesta quarta (3).

O controverso ex-estrategista-chefe de Trump, demitido em agosto, ainda compara a investigação do FBI sobre a influência russa na eleição de 2016 a um "furacão de categoria cinco".

Para ele, a Casa Branca está desatenta ao impacto da investigação, que deve "quebrar Donald Jr. feito ovo em rede nacional".

Em nota, Trump respondeu às afirmativas dizendo que Bannon "perdeu a cabeça", e criticou severamente o ex-assessor.

"Quando ele foi demitido, não perdeu apenas o emprego; perdeu a cabeça", disse. Para Trump, Bannon não representa a sua base, mas apenas a si próprio. O republicano destacou que Bannon começou a trabalhar na campanha depois que sua nomeação como candidato havia sido confirmada, e que ele teve "muito pouco a ver com nossa histórica vitória".

"A única coisa que ele faz bem", afirmou Trump, é "parecer muito mais importante do que era".

O filho de Trump não comentou.

HISTÓRICO

Bannon é uma espécie de guru da extrema direita americana e editor do site de notícias Breitbart, de inclinação conservadora. Ele foi um dos principais nomes da campanha de Trump e permaneceu na Casa Branca por sete meses, até ser demitido em decorrência do incômodo crescente com seus comentários sobre as manifestações supremacistas em Charlottesville, na Virgínia.

No livro de Wolff, os comentários de Bannon sobre a investigação do FBI estão entre os mais ácidos. As relações do antigo assessor presidencial com o filho e o genro de Trump, Jared Kushner, que também estava na reunião com os russos, não eram das melhores.

"Você percebe para onde isso está indo. É tudo sobre lavagem de dinheiro. O caminho deles [FBI] para ferrar o Trump vai direto por Paul Manafort, Don Jr. e Jared Kushner... É tão claro quanto água."

Ainda assim, Bannon afirma não ter tido contato com russos e diz que não será testemunha do caso.

O FBI apontou um procurador especial para conduzir a investigação, que está se fechando em torno de figuras próximas do presidente -o que tem gerado especulações sobre um eventual envolvimento de Trump em um conluio com os russos, que o republicano nega. No início do mês passado, o ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, firmou um acordo com os investigadores, e há a expectativa de que ele faça novas revelações sobre o caso.

OBRA

O livro de Wolff, que afirma ter feito cerca de 200 entrevistas com integrantes da campanha trumpista e da Casa Branca, será lançado na próxima terça-feira (9).

Ao longo do dia, outros trechos da obra circularam pela imprensa americana. Um deles sustenta que a primeira-dama Melania Trump confrontou o marido por temores de assumir o posto ainda durante a campanha, e que Trump teria respondido que "tudo estaria acabado em novembro", afirmando que ele não ganharia as eleições "de jeito nenhum".

Segundo trechos do livro, o então candidato achava que sua campanha estava "repleta de perdedores", e que, ao contrário, a adversária Hillary Clinton possuía a melhor equipe.

Em nota, a Casa Branca informou que a obra está repleta de "relatos falsos e enganosos" de pessoas que não tinham acesso nem influência no governo Trump, e classificou o livro como "um desprezível tabloide de ficção".

A porta-voz de Melania, Stephanie Grisham, disse que o livro de Wolff será vendido "na seção de ficção", e que a primeira-dama apoiou e incentivou a candidatura do marido à presidência.

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