Troca de figurinhas

Os álbuns da Copa têm o mérito de reduzir os adultos às calças curtas

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Rio de Janeiro

Há duas semanas, durante uma sessão da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio), no Palácio Tiradentes, dois jovens assessores parlamentares foram vistos passando papeluchos de mão em mão e os examinando como se os submetessem a um código —alguns papeluchos eram aceitos, outros, não.

Assessores parlamentares veem figurinhas da Copa durante votação na Alerj - Reprodução/Twitter

Como vivemos numa época de suspeições —e a Alerj, com seu tenebroso histórico de Cabrais e Piccianis, justifica qualquer suspeita—, imaginou-se que a dupla estivesse armando as mais altas (ou baixas) transações.

Mas não era nada disso. Enquanto se dava uma feroz votação em plenário, com a participação dos deputados que eles deveriam estar assessorando, os rapazes se dedicavam àquela atividade que, assim como a Copa do Mundo, só acontece de quatro anos —trocar figurinhas. Mais exatamente, as figurinhas da Copa do Mundo.

Os álbuns da Copa têm o mérito de reduzir os adultos às calças curtas, que talvez melhor lhes assentem, e de conferir às crianças um ar de grave seriedade, como se se empenhassem num trabalho de registro histórico. Trabalho este às vezes mais importante do que o próprio fato. Há quem ache que os álbuns das Copas de 1986, no México, e de 1990, na Itália, por exemplo, foram mais emocionantes do que as próprias Copas.

Nos últimos dias observei concentrações de pessoas furibundas e barulhentas, sempre perto de bancas de jornais, aqui no Rio, e ouvi dizer que estavam acontecendo também em São Paulo. Pensei que fossem protestos contra a prisão de Lula. Que nada. Eram marmanjos trocando figurinhas, e só faltando disputá-las no bafo-bafo.

Ah, sim, os assessores da Alerj foram afastados por seus deputados. Foi um erro. Talvez os próprios deputados devessem dedicar seu expediente à troca de figurinhas —não às escondidas nos gabinetes, mas no plenário mesmo, entre seus pares. Talvez saia mais barato para o estado.

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