Eleição de ideias ainda mais malucas
Candidatos líderes nas pesquisas deliram nos planos para impostos e gastos
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As aparências enganam os que odeiam e os que amam o gasto do governo. Na campanha eleitoral, nesta em particular, as ilusões tornam-se desvairadas.
Além das ideias de grêmio estudantil do jardim da infância de certa esquerda, há disparates novos da direita e mesmo do dito centro. A biodiversidade da maluquice aumenta.
O companheiro de chapa e marcha de Jair Bolsonaro, seu vice, o general Hamilton Mourão, dizia nesta quinta-feira (20) que pretende (ele mesmo?) baixar a carga tributária a 22% do PIB, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Hum.
A carga tributária anda pela casa dos 32,5% do PIB. Além disso, os governos federal, dos estados e dos municípios gastam mais do que arrecadam, outros 2,2% do PIB (não inclui a despesa com juros, de mais de 5% do PIB).
O general quereria reduzir a carga tributária em 11,5 pontos do PIB. Suponha-se que Mourão vá dividir essa conta com estados e municípios. O general já contou sua ideia para governadores e prefeitos? Mas tanto faz o tamanho da redução da carga. Qualquer que seja, não dá para fazer tão cedo, ponto.
Apenas na Previdência, o governo federal gasta 8,6% do PIB (não inclui aposentadorias de servidores).
Com pobres muito idosos ou com incapacidade de trabalhar e Bolsa Família vai 0,8% do PIB. Salários de servidores, uns 2,8% do PIB. Investimento em obras, 0,3% do PIB. Saúde, algo perto de 1,1% do PIB.
Qual é o plano? Quem vai ser esfolado? Como conter o déficit, havendo menos receita?
Claro que essa conversa não faz sentido algum, nem em 2019 ou 2022, nem daqui a uma década ou duas. A carga tributária vai aumentar, pois os governos estão quebrados.
O tutor econômico de Bolsonaro, o economista Paulo Guedes, pretende substituir impostos que arrecadam cerca de metade da receita federal por uma ou duas CPMF monstruosas. Sim, 50%, cerca de R$ 730 bilhões.
Diz que não quer aumentar a carga tributária. Mas, como tal imensa substituição é no mínimo temerária, pode ser até que a arrecadação caia, fora o risco de desorganização econômica com tamanha reviravolta. E aí? Como vai tapar o rombo ainda maior e evitar a turumbamba financeira e fiscal?
Há quem proponha, da esquerda à direita, um novo sistema previdenciário, em geral uma desconversa a fim de evitar o tema impopularíssimo da reforma. Qual a ideia?
Criar o sistema de capitalização. Isto é, cada trabalhador teria uma conta individual, em que aplica sua poupança para a aposentadoria. Parece bacana (embora em si possa também dar bem errado).
O problema é que as aposentadorias de agora são bancadas pelas contribuições de quem está na ativa. Se essas contribuições deixam de pagar os benefícios de quem está aposentado, quem fica com a conta? É uma despesa estimada em R$ 638 bilhões no ano que vem, 44% de tudo o que o governo federal prevê gastar em 2019.
Quando seu candidato vier com essa conversa, pergunte quem vai pagar a conta e se o plano dele prevê achatamento brutal das aposentadorias.
Há desvario por quase toda a parte. Haveria dinheiro para tudo. Haveria como cortar qualquer gasto, sem que se diga quem vai ser esfolado.
Certa esquerda, por exemplo, acredita que o gasto público no Brasil diminuiu depois que acabou o primeiro governo de Dilma Rousseff. Hum. O gasto aumentou, em proporção do PIB. O PIB caiu? É verdade. Mesmo assim, o gasto per capita deste ano é superior ao de 2014.
Chega de delírio e demagogia.
vinicius.torres@grupofolha.com.br