Descrição de chapéu

Polícia de SP prende suspeito de matar menino Arthur com tiro no Ano-Novo

Crédito: Arquivo Pessoal Arthur Aparecido Bencid Silva, de cinco anos, morreu após ser ferido por bala durante queima de fogos

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A Polícia Civil prendeu, na noite desta terça-feira (2), um suspeito de matar o menino Arthur Aparecido Bencid Silva, 5, que foi baleado na cabeça durante a virada do ano, na Vila Sônia, zona oeste da capital paulista.

A polícia também requisitou à Justiça a prisão temporária do homem por 30 dias. Segundo as investigações, o suspeito, que não teve a identidade revelada, deu seis tiros para cima com um revólver calibre 38 em horário próximo ao do crime. A bala que acertou o garoto é de um revólver com o mesmo calibre, diz a polícia.

O homem havia sido preso no dia em que Arthur foi baleado por porte ilegal de arma e foi solto no dia 1º após audiência de custódia —ele pagou fiança de R$ 500.

Em sua defesa, o acusado afirmou que estava no Jardim das Imbuias, em Parelheiros (zona sul), muito longe do garoto —pela distância, seria impossível atingi-lo.

A Polícia Civil diz suspeitar que os tiros tenham sido dados mais próximos à casa onde estava o menino.

A polícia diz, ainda, que, em uma interceptação telefônica em outra investigação, duas pessoas disseram que o suspeito estava preocupado com a repercussão do caso.

O delegado titular do 89º DP (Portal do Morumbi), Antônio Sucupira Neto, diz que chamou a atenção, ainda, contradição do suspeito sobre o momento em que foi abordado por PMs quando foi detido por porte ilegal. "Ele diz que a arma estava debaixo do banco, mas os policiais afirmaram no dia que ele jogou pela janela para se livrar", afirmou.

Segundo o delegado, será solicitado confronto balístico com o projétil retirado da cabeça do menino, para saber se saiu daquela arma. "Caso dê negativo, ele será colocado em liberdade imediatamente. As investigações continuam", disse.

INOCENTE

Eu sou inocente", disse o suspeito, à 0h07 desta quarta-feira (3), no 89º DP. Ele disse em depoimento, segundo a polícia, que atirou para cima perto de onde mora, no Jardim das Imbuias, em Parelheiros (zona sul). Por isso, seria impossível acertar o garoto de lá —a distância entre essa região e a Vila Sônia (zona oeste), onde o garoto foi atingido, é de aproximadamente 20 km, segundo o Google Maps.

O suspeito afirmou ainda que três amigos estavam com ele e poderão confirmar todas as informações repassadas por ele em depoimento.

BALEADO NO QUINTAL

Arthur foi atingido quando brincava com bolinhas de sabão no quintal da casa de seus familiares, disse a mãe, a professora Valéria Aparecido, 34.

O desespero tomou conta dos pais da criança ao perceberem uma poça de sangue se formar debaixo da cabeça do menino, que continuava inerte. "Disseram que ele arregalou os olhos e caiu duro. Imaginei que tinha ferido a cabeça na queda", afirma a mãe. A família estava na casa de um primo de Valéria para comemorar o Ano-Novo.

O pai contou que o deixou deitado no chão e chamou a ambulância, mas o desespero diante da gravidade da situação o fez correr com o filho para o hospital Family, o mais próximo. "Não sabia o que era. Só pedia para ninguém mexer nele", disse o eletricista David Santos da Silva, 33. Um exame de tomografia realizado no setor de emergência apontou a presença de uma bala alojada na cabeça, bem próximo da nuca. Foi então que a família descobriu que o filho tinha sido vítima de bala perdida.

Uma das hipóteses ainda a ser investigada é que criminosos comemoravam o Ano-Novo com tiros para cima e um dos disparos teria atingido Arthur. "Estava dentro de casa comemorando o Ano-Novo. Era uma criança, estava brincando. Foi uma vítima inocente da violência", disse a mãe.

BUSCA

Segundo nota enviada pelo hospital Family, do grupo NotreDame Intermédica, Arthur já chegou ao atendimento com dano neurológico importante. Por não dispor de uma UTI pediátrica, o hospital e a família iniciaram a busca por uma vaga de internação na rede pública e em instituições privadas. A procura só foi acabar cerca de quatro horas depois, quando ele foi levado para o Hospital Geral de Pirajussara, onde deu entrada em "estado gravíssimo" às 6h20 de segunda-feira (1º).

"A criança passou pela avaliação da equipe de neurocirurgia e por procedimento cirúrgico, foi internada na UTI pediátrica e faleceu devido à gravidade clínica", informou a Secretaria Estadual de Saúde, que administra o Hospital Geral de Pirajussara.

A família diz que teve dificuldade com o transporte do menino para o hospital estadual. "Como era feriado, tinha ambulância, mas não tinha médico", disse a mãe de Arthur. Segundo o hospital Family, profissionais que estavam de plantão foram deslocados para acompanhá-lo até a internação na UTI em outro endereço.

Segundo a mãe, foi feito contato em alguns hospitais particulares, que dispunham de vaga de internação, mas não aceitaram a transferência de Arthur. "Isso eu achei negligência. Às vezes, dava tempo de socorrer, mas perdemos a pessoa porque o que manda nesse país é o dinheiro."

O caso será investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Policiais ainda aguardam a perícia do corpo para avaliar a velocidade e o ângulo com que o projétil provocou o ferimento na cabeça do menino e dar sequência à apuração. De acordo com a mãe, a bala entrou de cima para baixo no crânio de Arthur. "É difícil saber de onde veio [a bala]", disse a professora, ao ser indagada se a família irá cobrar da polícia a autoria do disparo. Para o pai, o filho foi vítima da "guerra civil velada em que vivemos".

SUPER-HERÓI

O casal, que tem mais uma filha, descreveu Arthur como uma criança amorosa e "inteligentíssima". Segundo homenagem de uma tia em uma rede social, o menino gostava de se passar por um super-herói diferente por dia. "Ele chegou nesse mundo de surpresa, não foi nada planejado", escreveu Eliane Carrilho.

O relato segue e conta que gravidez, apesar de inesperada, foi muito comemorada pela família, que organizou o chá de bebê duas vezes. O menino tinha se tornado ainda mais falante e sociável recentemente, após começar a frequentar uma escola infantil.

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