Fundador de ONG que trata câncer infantil ganha prêmio de oncologia
Sérgio Petrilli, que fundou o Graacc em 1991, é o vencedor do Prêmio Octavio Frias de Oliveira
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Inconformado com o tratamento do câncer infantojuvenil e seus resultados pífios no Brasil dos anos 1970, o oncologista pediátrico Sérgio Petrilli resolveu agir para mudar esse cenário.
Em 1978, partiu com sua família para Nova York, onde estagiou por um ano no Memorial Sloan-Kettering. Na volta, uniu a experiência e o exemplo americanos aos esforços de médicos, enfermeiros, voluntários, pessoas físicas e jurídicas para montar uma ONG que oferecesse aqui as mesmas chances de cura vistas nos países desenvolvidos.
Fundado em 1991 por Petrilli e também pelo engenheiro Jacinto Guidolin e a voluntária Lea Della Casa Mingione, o Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) é referência nacional quando o assunto é câncer infantojuvenil. Reúne pesquisa, alta tecnologia e humanização do tratamento, que hoje tem chance média de cura de 70%.
Por sua contribuição à oncologia do país, Sérgio Petrilli, 71, é o vencedor do 9º Prêmio Octavio Frias de Oliveira na categoria Personalidade em Destaque. A cerimônia de entrega será na segunda (6), às 19h30, no teatro da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, e terá a apresentação da atriz Denise Fraga.
Na ocasião serão revelados os vencedores das outras duas categorias do prêmio. Em Pesquisa em Oncologia, concorrem três finalistas: um grupo da Faculdade de Medicina da USP com pesquisa sobre HPV, um do Instituto de Química da USP que estudou a metástase do neuroblastoma (que atinge as células do sistema periférico) e outro grupo que reúne cientistas do Icesp e do Incor e pesquisou a prevenção das doenças do coração relacionada à quimioterapia.
Na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, concorrem dois finalistas: um da Onkos Diagnósticos Moleculares e outro do Laboratório Nacional de Biociências e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais.
A premiação é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, busca reconhecer e estimular contribuições na área oncológica.
Para cada categoria, a premiação é de R$ 20 mil. Os vencedores são apontados por uma comissão composta por representantes do Icesp, da Faculdade de Medicina da USP, do HC da USP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Ciências, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Oncocentro de São Paulo e da Folha.
“Fico muito contente em receber esse prêmio da USP, do Icesp, da Folha e de todas as instituições envolvidas. É especial porque é um grande reconhecimento por parte dos pares”, afirma Petrilli.
Ele lembra que uma das primeiras ações de impacto do Graacc no tratamento do câncer infantojuvenil no país foi a disseminação de noções de diagnóstico precoce.
“No início, os casos chegavam muito avançados. Foi um processo importante mudar a condição dos pacientes. O câncer da criança, se diagnosticado cedo, responde até melhor à quimioterapia do que o do adulto”, diz.
Outra marca do Graacc é oferecer um espaço mais receptivo ao público infantojuvenil, com incrementos como a escola móvel, que leva os professores até as crianças, brinquedoteca e contação de histórias.
“Anos atrás se falava que a cura tinha que ser conseguida a qualquer preço, e o paciente saía sequelado. Evoluímos para o conceito de que só a cura não é suficiente, é preciso qualidade de vida. Para isso, precisamos ser um hospital que abraça a criança.”
Mas, para Petrilli, um dos grandes méritos da instituição é seu modelo de gestão e atendimento que envolve a academia, a iniciativa privada e a sociedade em geral.
“O Graac mostrou que é possível se organizar para usar diferentes modalidades de captação de recursos e, assim, oferecer um tratamento de ponta aos pacientes.”
Para Petrilli, o Graacc ajudou a mudar a cultura da doação. “Hoje a sociedade é mais madura e solidária e se oferece para contribuir com projetos bem estruturados.”
O prêmio, diz ele, dá a sensação de que a instituição está no caminho certo de seu propósito. “Nossa missão é dar à criança o direito de ser atendida de forma adequada. Se perdemos uma criança é porque a doença é grave, não porque ela é brasileira. O que é possível a gente oferece.”