Biografia de Sandro Moreyra traz boas histórias, mas resultado é frustrante
Livro conta trajetória de repórter apaixonado pelo Botafogo e amigo de Garrincha
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Entre colunistas, editores e repórteres, o Jornal do Brasil dos anos 1960 reunia jornalistas de renome na editoria de esporte. Estavam lá Armando Nogueira, João Máximo, Oldemário Touguinhó, José Trajano, Sergio Noronha, entre outros.
O noticiário do Botafogo ficava a cargo de Sandro Moreyra (1918-1987), sobre quem o jornalista Paulo Cezar Guimarães lança uma biografia.
Ao longo de sua carreira de mais de três décadas nas páginas do JB, entre os anos 1950 e 1980, Sandro acompanhou o time carioca e viu de perto formações espetaculares brilhando nos gramados do Brasil e em outros países.
Em 1961, por exemplo, a equipe de General Severiano contava com Garrincha, Didi, Nílton Santos, Zagallo e Amarildo —os cinco estariam na formação titular da seleção brasileira bicampeã mundial no ano seguinte, na Copa disputada no Chile.
No entanto, a ligação de Sandro com o Botafogo ia muito além da atividade de repórter, e depois colunista.
Em uma das boas histórias do livro “Sandro Moreyra - Um Autor à Procura de um Personagem”, ele leva seu time de amigos para disputar uma pelada no campo do sítio de um colega de redação.
Para a surpresa de todos, a equipe de Sandro vinha com Garrincha, Nílton Santos e o goleiro Manga. Ninguém se espantou com o placar: 13 a 0 para os visitantes.
Divertido, afetuoso e boêmio, Sandro era, de fato, grande amigo de Garrincha e Nílton Santos, que aparecem em várias passagens do livro.
Apaixonado pelo Botafogo, Sandro viajou com o time atuando como chefe de delegação e, temido pelos presidentes do clube, barrou negociações de jogadores.
Não havia, portanto, isenção alguma na relação entre o jornalista e o clube, tema que merecia olhar mais cuidadoso do autor do livro.
Mas esse não é o maior problema da biografia.
Segundo amigos e a própria filha, Sandro trocava nomes em seus textos intencionalmente e até inventava causos, em geral, engraçados.
Porém, como ele não ocupava uma coluna dedicada à ficção, tampouco seção de humor, o coitado do leitor estava sempre sujeito às suas enganações.
Seus textos eram envolventes, mas nem sempre comprometidos com a realidade.
A falha central do livro decorre dessa característica de Sandro Moreyra.
Guimarães não endossa as mentiras escritas pelo biografado, mas evita tratá-las com o rigor necessário.
Os tropeços da carreira de Sandro são abordados com superficialidade ou recebem uma embalagem folclórica.
Embora tenha passagens curiosas e bem-humoradas, o livro resulta frustrante. Seria bem melhor não fosse o excessivo encantamento do biógrafo pelo biografado.