Filme 'Piripkura' aborda relação do país com seus nativos

Em longa, funcionário da Funai busca índios para manter proteção de área ameaçada por extração de madeira

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André Barcinski
São Paulo

PIRIPKURA

Avaliação:
  • Quando: em cartaz
  • Classificação: 10 anos
  • Direção: Bruno Jorge, Mariana Oliva e Renata Terra

Piripkura” deveria ser exibido em escolas, igrejas, associações de moradores, enfim, em todos os locais onde cidadãos podem se interessar em saber mais sobre como o Brasil (des)cuida de suas florestas e povos indígenas.


Dirigido por Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge, o documentário aborda um tema imensamente complexo, a relação do país com seus nativos, por meio de uma história simples e emocionante: um funcionário da Funai, Jair Candor, organiza uma expedição às matas do noroeste de Mato Grosso em busca de dois índios piripkura: Pakyî e seu sobrinho, Tamandua.


Candor precisa encontrar os índios —ou pelo menos achar provas de que eles ainda estão vivos— para manter uma portaria do governo que protege a região destinada aos piripkura. A área é ameaçada por extração de madeira e pecuária. 


Em sua busca, Candor conta com Rita, irmã de Pakyî, uma piripkura que casou e mudou para Roraima. Candor não encontra Pakyî e Tamandua há mais de cinco anos, e teme que estejam mortos.


O filme acompanha a expedição de Candor e seus assistentes. Vemos, primeiro, os sinais do “progresso”: caminhões carregando imensos troncos de madeiras nobres, e gigantescas áreas dizimadas por queimadas e pastos.

 


Depois, já dentro da mata, são encontrados velhos acampamentos dos piripkura, com resquícios de armadilhas usadas pelos índios para caçar e pescar.


O filme abre mão de narração e recursos didáticos. A história vai se revelando aos poucos, por meio de entrevistas com Jair Candor e Rita. 


Candor conta que chegou em Rondônia em 1966 e viu expedições cujo único objetivo era matar índios: “Naquela época, a gente aprendia que os índios estavam atrapalhando o progresso do Brasil. Até hoje eu não sei explicar como mudei tanto de opinião”.


Na segunda metade do filme, a expedição finalmente encontra Pakyî e Tamandua, e as imagens são de puro deslumbramento. 


Sem qualquer traço de paternalismo, o filme trata os dois como pessoas de carne e osso, homens que vagam pelas matas sozinhos há décadas, fugindo de queimadas e da “civilização”.


Em “Piripkura” não há discursos ou proselitismo. Não há depoimentos de “especialistas” ou de ativistas. Jair Candor não é mostrado como um herói solitário, mas como um profissional dedicado e competente, que acredita na importância de seu trabalho. 


E até ele, acostumado a expedições sem fim pela mata, perde a paciência de vez em quando: ao ver um caminhão transportando toras de maçaranduba, desabafa: “Será que a área que já desmatamos não é suficiente para sustentar essa p... desse país?”.

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