Filme que ironiza classes sociais, 'Madame' peca ao trocar paródia por comédia romântica
Atriz Rossy de Palma interpreta empregada na produção francesa
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A troca de lugares —entre brancos e negros, homens e mulheres, pobres e ricos, héteros e gays— é um dos temas mais clássicos da comédia, com a inversão sendo usada para ridicularizar o que parece fixo e “natural”. A situação reaparece em “Madame” com a intenção de ironizar as hierarquias sociais e examinar a falta ou não de classe.
Toni Collette interpreta Anne, americana metida a besta casada com Bob (Harvey Keitel), um rico à beira do precipício financeiro. Ela decide, então, promover um jantar, reunindo um pequeno grupo de amigos influentes para impedir o naufrágio.
Mas a chegada inesperada do enteado eleva para 13 o número de presentes. Para afugentar qualquer ameaça numerológica, a anfitriã obriga a governanta Maria (Rossy de Palma) a sentar-se à mesa interpretando o papel de uma amiga, desde que permaneça calada para não revelar sua “natureza” de criada.
Em seu segundo longa, a diretora e roteirista Amanda Sthers procura pontos de apoio firmes para compensar sua relativa inexperiência. O principal recurso é o trio de intérpretes autossuficiente, cujas imagens se confundem com as dos personagens.
Outra escora eficiente é a opção pelo aspecto teatral numa longa cena de jantar, momento central do filme. Ali, o deslocamento da ação de um par a outro e o ziguezague verbal ilustram até a caricatura os comportamentos de uma certa fatia que se supõe herdeira da extinta nobreza.
Esta situação também sustenta e desencadeia o conflito principal entre a patroa, que acredita controlar tudo, e a empregada, que escapa do controle à medida que se embriaga. De um lado, está o teatro social, feito de máscaras e poses, essencialmente falso. A ele se opõem a espontaneidade e a liberdade associadas à verdade.
O momento bem resolvido, contudo, não dura o filme inteiro e a aproximação entre Maria e um convidado ilustre obriga a diretora a amenizar o tom, substituindo a acidez inicial pela doçura que, ao final, ganha nota amarga.
A passagem da paródia à comédia romântica obriga “Madame” a abandonar o ardil inicial até diluir o que antes poderia ser promissor.