Humor ingênuo e discurso edificante prejudicam animação 'O Homem das Cavernas'
Filme exalta discurso de valores como a amizade, o trabalho em equipe e a superação
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A excelência dos estúdios Aardman e do diretor, produtor e roteirista Nick Park em animações baseadas na técnica do “stop-motion” e personagens feitos com massa de modelar é incontestável. Foi demonstrada com a série “Wallace & Gromit”, “Shaun, o Carneiro” (2015) e “A Fuga das Galinhas” (2000).
Essa reputação gera altas expectativas em torno de “O Homem das Cavernas”, cuja história absurda e deslocada promete atender ao colocar lado a lado a Idade da Pedra, a Idade do Bronze e o futebol. No aspecto técnico, o filme mantém o nível das outras produções, com personagens expressivos e simpáticos, com movimentos fluidos.
O ingênuo e dentuço Doug, o herói da turma das cavernas, tem tudo para agradar com sua cara de espanto e seu porco de estimação, que remete ao cachorro Gromit. Corajoso, ele tenta convencer o chefe que a tribo deveria caçar mamutes e não coelhos.
Mas a cena de caça a um coelho espertinho explícita a deliciosa incompetência de Doug e seus companheiros bonachões, um bando de atrapalhados. Boa parte da comicidade do filme se baseia na rusticidade dos pré-históricos, mas a reiteração permanente dessa característica faz com que a graça se esvaia aos poucos.
Tudo corre bem com a tribo até o momento em que ela é atacada por uma civilização desconhecida e muito mais avançada que decide explorar o minério que existe em seu território.
Doug descobre que a civilização do bronze joga futebol, considerado um ritual sagrado, e propõe ao líder desta, o belicoso Lord Nooth, decidir o destino e a dignidade dos pré-históricos em uma partida de futebol. O problema é que a tribo de desajeitados precisa aprender a jogar futebol, enquanto os súditos de Nooth são exímios jogadores.
A recriação do universo futebolístico faz referências a clubes como Manchester United e Real Madrid, ao glamour e ao superprofissionalismo que marcam o esporte atualmente, numa divertida paródia.
Mas, ao contrário dos filmes que deram fama a Aardman e Park, o roteiro é demasiado convencional, não tem a mesma consistência, engenho e ousadia. A fantasia burlesca cheia de vivacidade e inteligência acabou cedendo espaço a um humor morno, inocente, razão pela qual o filme agrada mais às crianças do que aos adultos.
Outra característica que perdeu importância é o humor mudo. O filme chega a ser verborrágico e em alguns momentos é invadido por um desnecessário discurso cheio de boas intenções que exalta valores como a amizade, o trabalho em equipe, a superação.