'Emma e as Cores da Vida' merece destaque no cinema italiano atual
Longa é quase todo morno, mas química entre os atores faz o filme acontecer
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Personagens cegos são ótimos presentes para atores e atrizes demonstrarem suas habilidades dramáticas. Desde que o roteiro seja bom e que não se apele para a comiseração.
Recentemente, tivemos Blake Lively vivendo uma deficiente visual no mediano “Por Trás de Seus Olhos”, de Marc Forster. No passado, Mia Farrow, Audrey Hepburn, Karl Malden, Vittorio Gassman e Al Pacino, para dizer os mais famosos, viveram personagens cegos com grande brilho no cinema.
Agora é a vez de Valeria Golino, atriz fantástica, mas raramente reconhecida como tal. Em “Emma e as Cores da Vida”, ela se destaca mais uma vez como a osteopata cega que se envolve com Teo (Adriano Giannini, filho do grande Giancarlo Giannini), um publicitário mulherengo.
No começo, Teo é apresentado de maneira pouco simpática. Inventa mentiras para a amante e para a namorada, divide relatos de conquista com seu companheiro de trabalho. Numa experiência dentro de um quarto escuro (primeira cena do filme), conhece Emma, e começa a se aproximar dela.
A presença de Adriano Giannini, que herdou pelo menos uns 10% do carisma do pai, ajuda a suavizar a imagem de Teo aos poucos. É um cafajeste, mas não nos parece uma má pessoa, e torcemos para que seus sentimentos por Emma sejam genuínos, mesmo que ele não perceba de imediato.
Mesmo assim, ficamos sempre ao lado de Emma, e não pela fragilidade de sua condição. É que ela nos parece uma pessoa melhor, uma vencedora, e isso passa também pela interpretação de Golino.
Na direção, Silvio Soldini, de currículo duvidoso, com xaropadas como “Pão e Tulipas” (2000) e “Ágata e a Tempestade” (2004), mostra que sempre se pode evoluir. Na verdade, ele faz um feijão com arroz competente, o que permite a projeção dos atores.
É certo que o filme está sempre perto de degringolar, principalmente na segunda metade, muito por causa da insegurança de Teo, típico homem de meia idade que precisa se provar o tempo todo.
Mas as artimanhas do amor e de sua condição nos levam a um desfecho que não só é lógico, mas o único possível. Trata-se de um teste definitivo para o homem, o que ajuda a driblar um pouco a previsibilidade das coisas.
Como todo filme dirigido no modo segurança ligado, este também é quase todo morno, com conflitos que parecem facilmente solucionáveis, cenas que quase não comovem e que dizem pouco, quase nada. Nem as subtramas (uma jovem revoltada com a própria cegueira, a família de Teo) chegam a incomodar.
A química entre Golino e Giannini é que faz toda a roda girar. E faz com que fiquemos interessados nos caminhos e descaminhos desse amor.
Pode parecer pouco, mas, para o cinema italiano atual, é algo a ser destacado.