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Ano da desforra: Netflix contra-atacou e mulheres entoaram coro contra assédio

No Brasil, relação entre cineastas e o governo azedou em 2018

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2018, o ano do #MeToo, da briga Netflix x Cannes, de embates entre filmes politizados e escapistas
2018, o ano do #MeToo, da briga Netflix x Cannes, de embates entre filmes politizados e escapistas - Alex Kidd
São Paulo

Para o cinema, 2018 começou já em 2017. O ano que está prestes a acabar foi o rescaldo de rixas que tiveram sua fagulha no anterior e que se propagaram de forma estridente nos últimos 12 meses. 

O #MeToo, movimento que eclodiu após a revelação dos escândalos sexuais cometidos por Harvey Weinstein, em outubro de 2017, ganhou força, visibilidade e o centro do debate a partir de janeiro. Foi quando a cerimônia do Globo de Ouro se tingiu do preto dos vestidos de atrizes em protesto contra o assédio.

Naquele mesmo mês veio a resposta do outro lado do Atlântico, com atrizes e intelectuais francesas, entre elas Catherine Deneuve, assinando manifesto e defendendo que “homens devem ser livres para abordar mulheres”. Um petardo contra o que elas viram como puritanismo encalacrado das americanas.

Não houve festival de cinema, cerimônia de premiação ou entrevista de atriz que não incluísse na pauta o tema do assédio e do feminismo 2.0.

Se 2017 viu o declínio do macho alfa, 2018 teve a ascensão da mulher com dedo em riste; algumas saíram chamuscadas. Asia Argento, uma das mais aguerridas vítimas de Weinstein, se viu algoz de uma esquisita acusação de abuso.

O ano marcou ainda a crônica de outro barraco anunciado. A queda de braço entre Netflix e o Festival de Cannes, que começou em 2017, chegou ao auge com algum saldo positivo para o serviço de streaming. Isso não significa desprestígio da mostra francesa.

É fato, contudo, que a gigante do vídeo sob demanda abocanhou alguns dos melhores filmes do ano —“Roma”, de Alfonso Cuarón, “A Balada de Buster Scruggs”, dos irmãos Coen, “Lazzaro Felice”, de Alice Rohrwacher, e o póstumo “O Outro Lado do Vento”, de Orson Welles—, para infelicidade dos cinéfilos de raiz.

No Brasil, a relação entre cineastas e o governo azedou. 

O Ministério da Cultura reduziu o número de cineastas no Conselho Superior de Cinema. A Ancine, a agência reguladora do setor, criou um sistema de notas para diretores e produtoras terem acesso a recursos. As duas medidas provocaram mais um dos vários embates que marcaram 2018 e que, no ano que vem, com Jair Bolsonaro no poder, podem ficar ainda mais quentes. 

MELHORES DO ANO 

Visages, Villages
A veterana Agnès Varda lança aquele que talvez seja o documentário mais humanista do ano 

Arábia
Os mineiros Affonso Uchoa e João Dumans olham para a classe operária sem torná-la fantoche de discurso

Museu
Alonso Ruizpalacios escava a cultura mexicana nesse ‘road movie’ sobre vira-latas de todas as espécies

As Boas Maneiras 
Juliana Rojas e Marco Dutra rodam filme de terror para mostrar o terror das divisões sociais do Brasil

Projeto Flórida
As franjas do fantástico mundo do capitalismo são destrinchadas no amargo drama de Sean Baker

Me Chame pelo Seu Nome
Num ano politizado, Luca Guadagnino ofereceu um bálsamo carregado de calor e erotismo

Infiltrado na Klan
Ao dar nome aos bois, e voltar sua pistola a Trump, Spike Lee faz seu filme mais relevante em décadas

Benzinho
Com esse drama sobre maternidade, Gustavo Pizzi é doce sem ser piegas

OUTROS EMBATES 

Cinema ‘de esquerda’ x cinema ‘de direita’
O documentário "O Processo" rememorou o impeachment e foi saudado pela esquerda. Já "O Doutrinador" trouxe um super-herói que mata corruptos e galvaniza aspirações dos eleitores de Bolsonaro

Politização x escapismo
Filmes de Spike Lee, Jafar Panahi e Lav Diaz engrossaram o coro de obras que respondiam diretamente aos humores de 2018. Mas também houve espaço para o escapismo musical, com "O Retorno de Mary Poppins", "Nasce uma Estrela" e "Bohemian Rhapsody" 

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