Paciência do mercado com o Brasil será termômetro para rating, diz analista

Perspectiva para os próximos seis a 12 meses é de baixo nível de rebaixamento

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Danielle Brant
Nova York

O sentimento dos investidores e a paciência deles com o próximo governo será um dos termômetros usados pela Fitch para decidir se a nota de crédito do Brasil se manterá como grau especulativo ou se o país afundará ainda mais na escala da agência de classificação de risco.

Em entrevista nesta quinta-feira (6), Todd Martinez, analista da Fitch responsável por América Latina, afirma que esse será um dos fatores de peso para definir próximas ações sobre o rating do país.

“Uma das questões é quanta paciência nós teremos, mas se o mercado perder a paciência, isso importa para a gente. Se ficar mais difícil para o Brasil se financiar no mercado local, esse é um dos suportes para que o Brasil se mantenha no grupo dos países com rating BB”, diz.

Na Fitch, a perspectiva para a nota de crédito do país é estável, o que significa baixo nível de rebaixamento nos próximos seis a 12 meses.

“Mas se o mercado demandar juros maiores e se o governo tiver que recorrer a endividamento de curto prazo, é um quadro fiscal mais bagunçado que poderia pesar sobre o rating”, completa. 

Considerando o quadro eleitoral incerto, outro fator que influenciaria uma decisão da agência é qual o plano que o governo eleito implementaria para enfrentar o problema fiscal estrutural de endividamento que o país tem. 

“É difícil ver uma estratégia coerente que não envolva uma reforma da Previdência, porque representa metade dos gastos do governo nesse momento”, avalia. 

Uma melhora do panorama fiscal ajudaria a estender a paciência da agência, ressalta Martinez. Isso poderia vir de uma recuperação melhor que a esperada pelo mercado, de receitas extraordinárias da cessão onerosa da Petrobras ou de pagamentos do BNDES ao Tesouro.

“Ajuda o perfil de crédito de uma certa maneira. Não permanentemente, mas poderia ajudar, por alguns anos, a ter um quadro fiscal melhor.” 

A Fitch prevê crescimento de 1,5% para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2018. “Como muitos analistas, cortamos nossa projeção de crescimento para o Brasil no ano, mas nunca estivemos particularmente otimistas com as perspectivas para a recuperação econômica”, afirma Martinez.

Além da questão fiscal, diz, há outros fatores que comprometem o crescimento do país, como cortes de investimentos no setor público. “Houve melhoras nas questões estruturais da economia brasileira, a reforma trabalhista, a transição de TJLP para TLP [juros do BNDES], mas é uma economia enfrentando restrições no momento”, afirma. 

A paralisação dos caminhoneiros influenciou negativamente as projeções da Fitch, que vê no consumo das famílias uma possibilidade de fortalecer a recuperação do país. “É um setor da economia que pode ajudar no crescimento, porque as famílias podem tomar mais dinheiro emprestado e contribuir para o consumo.”

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