Descrição de chapéu Venezuela

Presos políticos fazem motim em Caracas

Ação ocorre após um deles ser espancado por presos comuns

O estudante oposicionista Gregory Sanabria, supostamente espancado nesta quarta-feira (16) por agentes de segurança na prisão El Helicoide, em Caracas, onde o regime Nicolás Maduro mantém presos políticos - Divulgação/Folhapress

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Fabiano Maisonnave
Caracas

Um grupo de presos políticos venezuelanos se rebelou nesta quarta-feira (16) após um deles ter sido espancado por detentos comuns, relataram políticos opositores e familiares.

O motim no presídio El Helicoide, administrado pelo Sebin, o serviço de inteligência criado pelo chavismo.

Segundo a oposição, o estudante Gregory Sanabria, preso nos protestos de 2014, foi agredido por detentos comuns. Em foto divulgada em redes sociais, ele aparece com o rosto bastante machucado.

Em vídeo gravado por celular, o prefeito cassado de San Cristóbal, Daniel Ceballos, em tom exaltado, acusou o governo de violar os direitos humanos dos presos políticos.

“Estamos decididos a resistir de qualquer forma, incluindo com nossas vidas, para que hoje se escute e se veja o que acontece nos calabouços da ditadura”, disse Ceballos, no cárcere desde 2014 por supostamente incentivar protestos violentos.

Em entrevista diante do presídio, Patricia Gutierréz, mulher de Ceballos e atual prefeita de San Cristóbal, acusou o Sebin de misturar presos comuns e políticos. Disse também que falta água e atendimento médico na unidade.

Em nota, a embaixada dos EUA exigiu do governo venezuelano a proteção física do cidadão norte-americano Joshua Holt, preso desde 2016 sob a acusação de conspirar contra o governo e de possuir armas de guerra.

Via rede social, o procurador-geral, Tarek William Saab, aliado do ditador Nicolás Maduro, disse que enviaria uma comissão para negociar com os presos.

Segundo a ONG Fórum Penal, há 338 presos políticos na Venezuela. No presídio El Helicoide, são 54 detentos, entre comuns e políticos. 

Ceballos, 34, é um dos presos políticos de mais alto perfil na Venezuela. Sua cidade, San Cristóbal, é a capital do estado de Táchira, um dos principais focos de oposição ao regime chavista.

O detento mais conhecido é Leopoldo López, que está em prisão domiciliar. Diante de sua casa, no leste de Caracas, há uma guarda permanente do Sebin. Ele está proibido de conceder entrevistas e de fazer pronunciamentos.

Pela manhã, algumas centenas de manifestantes realizaram um ato diante do escritório da OEA (Organização dos Estados Americanos). Ali, exigiram um pronunciamento contra a realização da eleição presidencial marcada para este domingo (20).

O protesto foi convocado pela MUD (Mesa da Unidade Democrática), coalizão de partidos oposicionistas que prega a abstenção. Entre seus líderes estão Henrique Capriles e López, ambos inelegíveis.

Ao contrário do ano passado, quando as marchas reuniram dezenas de milhares de pessoas entre abril e junho, a MUD não tem conseguido mobilizar multidões.

A maioria dos que participaram do protesto era militante de partidos inscritos na MUD, como o Vontade Popular (VP), de López. Portavam camisetas e bandeiras das agremiações. 

“Não há saída pela via eleitoral”, afirmou a militante do VP Minely Cardenas, 31.

“Depois da repressão do ano passado, a gente não sai de casa”, disse à Folha, durante o ato, o deputado oposicionista Stálin Gonzalez. Ele ganhou projeção ao liderar manifestações estudantis em 2007, as primeiras contra o chavismo.

Ao menos 121 pessoas morreram durante os protestos do ano passado, segundo o Ministério Público. Uma contagem paralela, do site Runrunes, eleva a cifra para 157 mortos.

Um dos poucos manifestantes sem camisa de partidos oposicionistas, o policial aposentado José Galindez, 70, justificou o baixo quórum com o argumento de que a população está desiludida. “Mas pouco a pouco voltará às ruas”, aposta.

Galindez disse que, apesar da posição da MUD pela abstenção, irá votar no domingo pelo dissidente chavista Henri Falcón, que rompeu com a coalizão oposicionista para se lançar candidato e aparece na frente na maioria das pesquisas de opinião.

“Grande parte das pessoas que conheço vai votar”, diz Galindez. “Se Maduro ganha, haverá uma explosão.”

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