Descrição de chapéu Coreia do Norte

Hackers norte-coreanos tentaram roubar US$ 1,1 bi e já atacaram Brasil

Antes dedicada a ações políticas, quadrilha vem roubando de estrangeiros para financiar regime

Estudantes usam computadores em sala de aula da Universidade de Tecnologia de Pyongyang, na Coreia do Norte, com foto dos líderes Kim Il-sung e Kim Jong-il na parede - Vincent Yu - 20.set.12/Associated Press

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Bruno Benevides
Washington

Alvo de sanções internacionais que afetam sua economia, a Coreia do Norte encontrou uma nova forma para financiar a ditadura que controla o país: roubar dinheiro de organizações estrangeiras através de ataques online.

A ação é feita por um grupo de hackers ligado ao governo do ditador Kim Jong-un que já tentou roubar US$ 1,1 bilhão (R$ 4,3 bilhões) de outros países, entre eles o Brasil. É a maior quantia ligada a um grupo específico na história.

As informações sobre a existência e a atuação do grupo foram reveladas nesta quarta-feira (3) pela FireEye, empresa de cibersegurança que costuma trabalhar em conjunto com o governo americano.

Entre os alvos já confirmados estão o Banco Central de Bangladesh e os bancos Far Eastern International (de Taiwan), o mexicano Bancomext (México) e, mais recentemente, o Banco de Chile.

Por questão de confidencialidade, a empresa não informou quais organizações brasileiras foram alvejadas, mas revelou que os ataques foram de pequena escala. Além dos bancos e do setor financeiro, indústrias e empresas de mídia também foram atacadas.

Embora já existisse a desconfiança de que Pyongyang mantinha hackers com o objetivo de roubar dinheiro para dar fôlego ao regime, é a primeira vez que a um grupo do tipo é confirmada.

Até o momento, apenas ataques online de cunho político —como o realizado contra a Sony em 2014 antes do lançamento do filme “A entrevista”, que satirizava Kim Jong-un— tinham sido atribuídos ao governo norte-coreano.

O relatório mostra que o grupo existe ao menos desde 2014, um ano após o Conselho de Segurança da ONU impor novas sanções contra o regime, e que sua atuação não diminuiu em 2018 apesar da aproximação entre Pyongyang e Washington, que culminou na cúpula entre Kim e o presidente americano, Donald Trump, em junho em Singapura.

“Uma das razões que estamos revelando isso é que o grupo continua agindo normalmente apesar das cúpulas”, afirmou Sandra Joyce, vice-presidente de inteligência global da empresa.

Embora não exista uma denominação oficial, o grupo recebeu no relatório o nome de APT 38, sigla em inglês que significa ameaça avançada persistente e que indica que é ligado a um Estado (o número serve para diferenciá-lo de outras organizações com a mesma classificação).

As APTs são consideradas a principal ameaça à segurança cibernética mundial porque são bancadas por dinheiro estatal, o que as permitem ter grandes equipes e atacar vários alvos de forma simultânea. Segundo Joyce, o grupo norte-coreano pode realizar até nove ataques de grande escala ao mesmo tempo.

Nenhuma pessoa foi identificada como parte do ATP 38, mas o relatório aponta uma ligação entre ele e Park Jin-hyok, cidadão norte-coreano acusado pelo governo americano do ataque contra a Sony em 2014.

Para realizar suas ações, o grupo primeiro identifica indivíduos que trabalham na organização que planeja atacar e rouba seus dados sem que ela perceba, em geral através de sites ou emails falsos.  

Com isso em mãos, os hackers acessam o sistema da organização e passam a estudar a melhor forma de realizar o roubo. Em média, ficam 155 dias dentro do sistema antes de atacar —em alguns casos foram quase dois anos de espera.

Para a analista Jacqueline O’Leary, que trabalhou no relatório, este é o modus operandi de espiões, não de hackers. “Eles têm paciência, não fazem ataque de frente”, disse ela. 

Após enfim realizarem o roubo, o grupo norte-coreano deixa ainda um programa para implodir todo o sistema. A ideia é ao mesmo tempo destruir as evidências do ataque e desviar a atenção de autoridades de segurança, como um ladrão que queima a casa após o furto.

Muitas organizações só percebem que foram alvo da ação neste momento, quando o roubo já foi concluído e sua rede, destruída.  

O jornalista viajou a convite da FireEye.

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