Descrição de chapéu

Preparando terreno

Valor gasto em programa de recapeamento em São Paulo indica prioridade questionável 

Asfalto novo na Av. Eng. Caetano Alvares, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

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Não surpreende que o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), tenha escolhido como foco de sua gestão nas próximas semanas a pavimentação da via pública. A sanha de inaugurar obras, afinal, constitui tradição em anos eleitorais.

Embora se apresente como símbolo da renovação, da eficiência do gestor em contraponto à figura desgastada do político tradicional, Doria não foge à regra.

A bem da verdade, o tucano dá mostras de permanecer em campanha desde sua vitória em primeiro turno na eleição municipal de 2016, feito inédito em São Paulo desde a Constituição de 1988.

Mal havia assumido seu posto, já buscava alinhavar forças que lhe garantissem a vaga de candidato à Presidência, o que acabou por desgastar as relações com seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), principal nome da sigla para a disputa.

Frustrado o projeto rumo ao Planalto, dá-se agora como provável que o prefeito vá renunciar a seu cargo no começo de abril para concorrer ao governo estadual.

Nesta possível reta final de Doria na prefeitura, o recapeamento das ruas do município ganhou recursos expressivos. Prevê-se para o programa Asfalto Novo um orçamento de R$ 550 milhões neste ano, valor superior à expectativa de investimento (obras e equipamentos) em educação (R$ 167,7 milhões) e saúde (R$ 544,5 milhões).

Não se nega que a zeladoria da cidade careça de cuidados. O que parece questionável é a escolha de prioridades --e não apenas porque projetos desse tipo conferem visibilidade e ganhos imediatos ao gestor público, enquanto os resultados em educação e saúde são perceptíveis apenas a longo prazo.

Preocupa, em especial, o privilégio atribuído, mais uma vez, ao transporte individual, maior beneficiado pela reforma do asfalto. Reconheça-se, porém, que se trata de uma bandeira de governo referendada por maioria popular.

Cumprindo promessa de campanha, Doria elevou, em seus primeiros dias de mandato, os limites de velocidades nas marginais, reduzidos na gestão Fernando Haddad (PT) em uma política meritória para diminuir o número de mortes.

Ainda que possam desagradar a fatias consideráveis do eleitorado, medidas restritivas que favoreçam o transporte coletivo são essenciais para conferir mais segurança e fluência ao trânsito paulistano.

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