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Shajar Goldwaser, Bruno Huberman e Iara Haasz: Solidariedade não é antissemitismo

É lamentável que a Conib escolha atacar partidos e pessoas que defendem os direitos humanos, no Brasil e na Palestina, tachando-os injustamente de antissemitas

O advogado Fernando Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), que acusou ala do PSOL de antissemitismo em entrevista à Folha - Avener Prado - 9.mai.18/Folhapress

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Solidariedade é um princípio fundador do judaísmo, de modo que reconhecer injustiças e se solidarizar com lutas de oprimidos e oprimidas pelo mundo deveria ser um imperativo a todas e todos nós judeus.

Infelizmente, o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), em entrevista a esta Folha, utilizou de falsas acusações de antissemitismo para constranger pessoas e partidos políticos que se solidarizam com os direitos humanos do povo palestino.

Devemos ter claro que a oposição às políticas e leis discriminatórias de Israel e o apoio ao movimento não violento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) não devem ser associados com o antissemitismo. É preciso questionar e condenar o uso do antissemitismo como ferramenta política para silenciar críticas ao regime israelense, assim como demandar precisão na linguagem e responsabilidade nessas críticas.

Urge diferenciar o judaísmo do regime de discriminação e controle imposto pelo Estado de Israel ao povo palestino. Afinal, o judaísmo não tem nenhuma relação com os sistemas de leis distintos por critérios étnico-raciais adotados por Israel, tampouco com os ataques militares israelenses a civis desarmados, demolições de casas palestinas, restrição de movimento e acesso a água a não judeus; ou com a constante expulsão de palestinos e palestinas de suas terras desde 1948.

Por sua vez, o movimento BDS, recentemente nomeado como um dos candidatos ao prêmio Nobel da Paz e apoiado por judeus e judias em todo o mundo, reivindica apenas o respeito ao direito internacional e às resoluções da ONU. Trata-se de um chamado do povo palestino a todas e todos nós por solidariedade efetiva, por meio de campanhas pacíficas pelo rompimento de vínculos institucionais de cumplicidade e apoio às políticas ilegais israelenses.

Grupos como Voz Judaica Pela Paz nos EUA; Círculo de Pais e Famílias Enlutadas e Coalizão de Mulheres pela Paz em Israel; intelectuais como Judith Butler, Noam Chomsky, Illan Pappé, e Nurit Peled Elhanan; jornalistas como Gideon Levi, Amira Hass, e Yotam Feldman estão entre as milhares de pessoas e organizações judaicas, em Israel e em todo o mundo, que, como nós, não aceitam a utilização do judaísmo e do antissemitismo para justificar ou ignorar injustiças contra outros seres humanos.

Esse compromisso nos leva a não fechar os olhos para atitudes racistas do Estado de Israel também contra refugiados africanos, trabalhadores asiáticos e até mesmo contra judeus não europeus.

Também nos leva a não ignorar as injustiças no Brasil. Temos que denunciar as profundas desigualdades da nossa sociedade e o brutal racismo, LGBTfobia e machismo que oprimem e matam tantos brasileiros e brasileiras.

É lamentável que a Conib escolha atacar publicamente partidos e pessoas que defendem os direitos humanos, no Brasil e na Palestina, tachando-os injustamente de antissemitas; e que não se oponha a políticos abertamente racistas e LGBTfóbicos, como Jair Bolsonaro, o qual tem buscado se aproximar sistematicamente da comunidade judaica no Brasil.

Nós, judeus e judias, cujas famílias sofreram inúmeras perseguições racistas no decorrer da história, deveríamos nos posicionar contra toda e qualquer forma de racismo e opressão na atualidade.

Reivindicar a liberdade, igualdade e justiça para todas e todos os oprimidos, inclusive ao povo palestino, é dever de todos e todas nós.

Shajar Goldwaser, Bruno Huberman e Iara Haasz

São membros da SEDQ, uma rede global judaica por justiça em Palestina/Israel e no mundo

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