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O dilema de Angra 3

Bolsonaro terá de decidir se dedica à construção da usina ou a desmonta

Vista geral das obras da usina termelétrica nuclear (UTN) Angra 3 - Divulgação/Eletronuclear/Folhapress

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A construção da usina nuclear de Angra 3 se arrasta, desde a década de 1980, no lodaçal perdulário das obras públicas brasileiras. O governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), terá de decidir se dedica um esforço financeiro hercúleo para desatolar o projeto, no qual já se enterraram bilhões.

Como noticiou esta Folha na quarta (21), a alternativa que se coloca implica despender ou R$ 17 bilhões para concluir a obra ou outros R$ 12 bilhões para desmontar o que já foi feito e saldar as dívidas financeiras da Eletronuclear, segundo cálculo da consultoria PSR.

Até 2015, quando a construção foi paralisada, haviam sido investidos ali R$ 6,9 bilhões (em valores atualizados). Abandonar de vez o empreendimento, agora que 67% das instalações foram realizadas, significaria em realidade desperdiçar um total de R$ 18,9 bilhões.

Como regra geral, soa óbvio que obra iniciada precisa ser concluída, mas eis aí um gasto monumental, num momento em que medidas duras e impopulares se impõem para equilibrar as contas estatais. Parece surreal um país acossado por crescentes déficits orçamentários defrontar-se com tal dilema.

Há que levar em conta na decisão, além da questão financeira, o benefício oferecido por Angra 3. O dispêndio de R$ 17 bilhões, por improvável que seja, levaria à agregação de 1.405 megawatts ao parque elétrico, suficientes para abastecer Brasília e Belo Horizonte.

Mais que isso, centrais nucleares produzem energia com a qual se pode contar de modo quase contínuo, à diferença de hidrelétricas, usinas eólicas e solares, que variam conforme a estação e a hora do dia.

Têm, ainda, a vantagem de não emitir gases do efeito estufa na geração, como termelétricas movidas a carvão, óleo ou gás, que agravam a mudança climática. Mas persiste a questão da segurança de operação e dos resíduos radiativos, que ainda suscita contestações.

Tudo somado e sopesado, a conduta racional seria concluir a obra. Teria sido esse o intuito da recente decisão de dobrar o preço de referência para a energia de Angra 3, para R$ 480 o megawatt-hora.

Para a Eletronuclear, tal valor estaria em linha com o que se vê no exterior e atrairia investidores. Fica, porém, bem acima do que custa a eletricidade de fontes renováveis.

O ônus final recairá sobre o consumidor: R$ 6,6 bilhões a mais na conta de luz, na comparação com a energia solar no Sudeste.

Compete ao governo Bolsonaro realizar mais estudos e encontrar soluções, com a participação de investidores privados, que possibilitem diminuir a sobrecarga.

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