Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Audiência mostra que jornal não estava perdido na crise dos caminhoneiros

Editora do caderno Mercado responde a críticas sobre cobertura da paralisação dos caminhoneiros

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Alexa Salomão
São Paulo

Antes de eu chegar à Folha, há oito meses, para assumir o cargo de editora de Mercado, Paula Cesarino Costa já era uma de minhas leituras obrigatórias aos domingos. Suas críticas políticas e sociais são afiadas. Sempre me inspiraram.

Segue na mesma linha a sua coluna de domingo passado “A imprensa foi atropelada - Folha não conseguiu responder à pergunta fundamental: quem parou o país”. A crítica coloca luz sobre fragilidades da cobertura jornalística.

É fato que ninguém esclareceu cabalmente a dúvida sobre quem está por trás do movimento. Tivesse a crítica ficado nisso, não haveria o que discordar —apesar de “quem” não ser a questão que mais me perturba nessa cobertura.

Incomoda, Paula, é não saber definir “o quê”. Não conseguir dimensionar o sentimento difuso e coletivo de insatisfação que coloca mais de 600 mil homens no acostamento das rodovias, com cartazes pedindo a intervenção militar e a volta de ditadura.

A discussão terminou focada em R$ 0,46. O preço, parece, está subindo. Em 2013 foram R$ 0,20. O que vai acontecer quando houver mobilização por R$ 1?

Mas a ombudsman foi além da discussão do “quem” em sua crítica. E aí, errou.

Não é verdade que a Redação “ignorou o alerta” ou que houve “indicações de despreparo, desnorteamento e fragilidade de análise”. Olhando em retrospecto, parece que a ombudsman não lê com atenção a cobertura de Mercado.

Na segunda (21), quando a paralisação começou, a reportagem já havia ouvido caminhoneiros e governo. Na edição impressa de terça (22), o assunto ocupava a capa do caderno —de onde não saiu.

Quase que minuto a minuto, as equipes de São Paulo, Brasília e Rio e correspondentes da Agência Folha se esforçaram para levar ao leitor o relato mais completo possível dos desdobramentos da paralisação. Apenas naquela primeira semana, foram 11 infográficos, seis artigos e uma entrevista de fôlego para montar o quebra-cabeças das perdas que ocorriam num crescendo.

Dois dados demonstram que a Folha tinha consciência da dimensão dos fatos.

O primeiro foi sua cautela quando o governo Michel Temer anunciou, na noite de quinta (24), o fim da paralisação. A Folha noticiou que “era preciso esperar a reação dos caminhoneiros para medir o nível de adesão ao acordo” —porque a profundidade e a extensão de sua apuração até então deixavam claro que o governo negociara com uma parcela menos representativa da categoria.

O segundo dado foi a audiência. Estivesse a Folha desnorteada, não teria atraído tantos leitores. Os acessos dobraram. A audiência de Mercado, descontado o Ao Vivo —o chamado live, que dá notícias pontuais e ficou no ar 24 horas por dia entre os dias 24 e 31— cresceu sete vezes. No pior dia, as reportagens de Mercado tiveram 1,1 milhão de visualizações. 

E não foi audiência sensacionalista. Foi qualificada. Apenas a entrevista do economista Eduardo Giannetti, publicada no domingo (27), teve quase meio milhão de visualizações —300 mil leram no celular, 60% compartilharam.

Não se enganam os leitores.

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