Em debate, Anastasia fala em intervenção em Minas por falta de pagamento a municípios

Principal enfrentamento foi entre o ex-governador do PSDB e o governador Pimentel, do PT

Senador Antônio Anastasia discursa no Senado Federal - Alan Marques/Folhapress

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Carolina Linhares
Belo Horizonte

Em um debate morno entre candidatos ao governo de Minas Gerais, promovido pela TV Alterosa e pelo jornal Estado de Minas na noite desta terça (18), o principal enfrentamento ficou por conta do senador Antonio Anastasia (PSDB) e do governador Fernando Pimentel (PT), que imputaram um ao outro a responsabilidade pela crise financeira no estado.  
 
Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada em 6 de setembro, Anastasia lidera com 32% das intenções de voto e Pimentel soma 22%. Em terceiro lugar está Romeu Zema (Novo), com 5%, que não foi convidado para o debate.
 
Anastasia afirmou que a situação de não pagamento dos repasses constitucionais às prefeituras poderia ensejar uma intervenção federal no estado. O governo Pimentel reteve mais de R$ 8 bilhões devidos aos municípios.
 
“Isso é gravíssimo, não há dúvida de que há quebra do princípio federativo e isso enseja, em tese, até a possibilidade de intervenção. Não é o caso, porque nós já estamos tendo intervenção no Rio, então haveria dificuldade”, afirmou à imprensa após o debate.
 
O tucano, que foi governador entre 2010 e 2014, disse que o estado vive situação dramática e de desrespeito aos servidores, devido ao parcelamento e atraso no pagamento de salários. Lembrou ainda que Pimentel reteve pagamento de empréstimos consignados aos bancos, negativando o nome de servidores. “No meu tempo, eu pagava religiosamente no quinto dia útil”, disse.
 
“Ninguém parcela salários porque quer. Eu encontrei o estado em uma situação deplorável do ponto de vista do caixa. O ex-governador omite o fato de que o grande responsável pelo rombo no estado é ele”, rebateu Pimentel. O governador prometeu tentar diminuir para duas parcelas o pagamento do salários.
 
Anastasia, por sua vez, chamou de “maldade” o que a gestão Pimentel impõe aos servidores e municípios. O tucano adotou a estratégia de falar diretamente com o eleitor. “Estou preocupado com você, militar, cidadão, que não está tendo o serviço publico que merece. Compare o que fizemos e o governo atual, converse com servidores”, disse.
 
Ele afirmou ainda que é preciso reduzir o tamanho da máquina: “Precisa haver exemplo de austeridade por parte da alta administração de Minas Gerais”. “O governo Pimentel não enfrenta a crise, cria desculpas e lamentações, e terceiriza a responsabilidade que tem”, completou.
 
Para Anastasia, o início da crise no estado está ligado “ao governo desastroso de Dilma Rousseff [PT]”. Já Pimentel afirmou que o governo de Michel Temer (MDB) é que agravou a crise, ao bloquear recursos para Minas Gerais.
 
O petista adotou a estratégia de nacionalizar a campanha, ligando o tucano ao senador Aécio Neves (PSDB), acusado de corrupção, e ao impeachment. “Eu trabalho por Minas, ao contrário dos senadores que não fizeram nada e ainda patrocinaram o golpe.”
 
Ao falar com jornalistas após o debate, Pimentel afirmou que muitas das críticas que recebeu foram incorretas e infundadas. “É sempre um debate de cinco candidatos contra um governador.”
 
Também participaram João Batista dos Mares Guia (Rede), Dirlene Marques (PSOL), Adalclever Lopes (MDB) e Claudiney Dulim (Avante). Foi o segundo debate entre os candidatos mineiros.

 POLARIZAÇÃO

Os demais candidatos criticaram a polarização no estado. “Minas está de joelhos em razão de uma disputa política entre PT e PSDB”, afirmou Dulim. O candidato pregou que o povo não seja deixado em segundo plano e que a administração pública seja despartidarizada, com uma boa relação com o governo federal independentemente do partido que ocupe o cargo.
 
“O que acontece no estado é guerra política, de PT e PSDB, que tem acabado com Minas Gerais”, reforçou Adalclever. “Ninguém aguenta mais ódio e rancor, queremos um governador que una.”
 
O candidato participou de debates pela primeira vez. Ele substitui Marcio Lacerda (PSB), que representou a coligação no primeiro debate, da Bandeirantes, mas retirou sua candidatura após ter sido barrado pelo próprio partido.
 
Adalclever evitou atacar diretamente Pimentel e escolheu Anastasia para responder a sua pergunta, num aceno de possível apoio ao petista no segundo turno. O candidato do MDB acusou o tucano de receber os professores com a tropa de choque em seu governo, o que Anastasia negou.
 
O MDB compõe a base de Pimentel e, junto com o PT, foi oposição ao governo do PSDB. No entanto, Adalclever optou por lançar candidatura em vez de fazer parte da chapa petista. “Nós demos sustentação, governabilidade e ajudamos Minas, mas agora temos um projeto que é diferente do governador Pimentel”, justificou.
 
Pimentel, por sua vez, escolheu Adalclever para fazer dobradinha sobre segurança pública e abriu as portas ao apoio emedebista. “O MDB merece respeito. A bancada estadual sempre esteve alinhada com PT, fomos juntos oposição ao PSDB. Tivemos um relacionamento positivo e andou bem enquanto estivemos juntos. Continuamos militando no campo demorático popular de oposição ao neoliberalismo. No segundo turno, podemos estar juntos”, disse no debate.
 
À imprensa, Adalclever evitou falar de apoio em segundo turno, negou rompimento com Pimentel e reconheceu sua distância do PSDB. “Meu partido fez uma opção de apresentar proposta para Minas Gerais, mas eu não rompi nem briguei com ninguém. Eu fui quatro vezes oposição a Anastasia e conheço bem o que foi a gestão dele, eu só pude falar sobre aquilo que eu conheço”, disse.
 
Mares Guia também concentrou sua fala na crise financeira, culpando tanto Anastasia, quanto Pimentel e Dilma pelo déficit. “Vamos criar um fundo previdenciário, com ações das estatais e da dívida pública”, afirmou.
 
A candidata do PSOL, Dirlene, afirmou que a educação está sucateada e que sua candidatura representa a luta de mulheres e movimentos sociais.
 
Foram abordados temas de segurança pública, segurança dos museus, impostos sobre combustíveis, educação e desastre da Samarco ---não houve perguntas sobre saúde.

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