Grupo de generais monta QG em Brasília para discutir governo Bolsonaro
Maioria dos participantes é militar da reserva liderada pelos generais Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira
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Nesta quinta-feira (11), um grupo de cerca de 20 homens, a maioria vestida de terno e gravata e com mais de 45 anos, participava de uma reunião no local que se converteu em quartel-general de Jair Bolsonaro (PSL) em Brasília.
O tema em discussão era segurança pública. Na sala, mesas foram deslocadas para o centro, e os participantes, sentados à volta, formavam uma espécie de arena.
A maioria dos participantes era militar da reserva, todos liderados pelos generais Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira, oficiais de quatro estrelas —o que no jargão militar representa a mais alta patente do Exército.
Civis também integravam o grupo. Eles foram convidados para apresentar ideias ao time que tem como missão elaborar propostas para um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL).
O time passou esta quinta-feira reunido em dois turnos, de manhã e à tarde, com uma pausa para o almoço, por volta das 14h, em um restaurante no andar de cima.
Desde meados de setembro, o chamado “grupo de Brasília” de aliados de Bolsonaro se reúne no subsolo do Hotel Brasília Imperial, no Setor Hoteleiro Sul —um edifício de três andares e que tem como principal atrativo o preço (barato), segundo um dos participantes da equipe.
A diária de uma sala no hotel sai por R$ 700, mas um integrante do grupo diz que conseguiu negociar um desconto graças à proximidade com os donos do Imperial, da família Bittar, proprietária de outros hotéis na capital.
A reportagem procurou a administração do hotel para saber qual o preço pago pela equipe de Bolsonaro, mas a gerência negou que haja reuniões partidárias no Imperial.
Na área dedicada a eventos, no subsolo, algumas obras de arte e fotos penduradas nas paredes compõem a decoração, formada também por duas cadeiras antigas com o estofado gasto e vasos com plantas de plástico.
As pequenas salas de reuniões dividem espaço com a academia de ginástica, que nenhum hóspede usava no momento em que os aliados de Bolsonaro se reuniam no cômodo ao lado.
Até se mudar para o subsolo do Hotel Brasília Imperial, o grupo se encontrava uma vez por semana no apartamento de Ferreira, uma cobertura na Asa Norte. O núcleo é composto por cerca de 12 pessoas —entre os quais Heleno e Ferreira, o também general Aléssio Ribeiro Souto, dois brigadeiros da reserva da Aeronáutica e oficiais de patente intermediária do Exército e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
Heleno foi o primeiro a aderir a Bolsonaro e recebeu a notícia de que o capitão reformado sairia candidato antes do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
O grupo de Brasília começou a se formar em setembro de 2017, quando Ferreira foi convidado por Bolsonaro a participar da elaboração de um plano de governo.
As reuniões no apartamento da Asa Norte começaram em março deste ano e ocorriam às quartas-feiras para que Bolsonaro, em Brasília para cumprir a agenda parlamentar, pudesse participar. O formato era sempre o mesmo: um especialista convidado dava uma palestra, todos debatiam e Ferreira tomava nota.
Às vésperas da apresentação obrigatória do plano de governo à Justiça Eleitoral, em agosto, o programa do grupo estava pronto. Bolsonaro optou, porém, por entregar um documento mais superficial, elaborado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cotado para assumir a Casa Civil caso o capitão reformado seja eleito.
O grupo de Brasília continuou a se reunir, com o objetivo de depurar as ideias, que poderão começar a ser colocadas em prática ainda durante uma eventual transição.
Eles decidiram mudar o endereço do QG da cobertura de Ferreira para o Hotel Brasília Imperial após a fusão com o time liderado pelo economista Paulo Guedes. A unificação, selada em 17 de setembro, traria mais colaboradores, o que faria explodir o consumo de pão de queijo e biscoitos, servidos pela mulher do militar, Cilma, técnica aposentada do TCU (Tribunal de Contas da União) e braço direito de Ferreira.
O elo entre o grupo de Brasília e o de Guedes é o economista Adolfo Sachsida, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que colabora com Bolsonaro desde o fim de 2017.
Ele recrutou especialistas para a maior parte dos 27 grupos temáticos que estão sob o guarda-chuva de Guedes. Tanto militares quanto civis dizem trabalhar sem remuneração, e a falta de verba limitou o convívio com especialistas de outros estados, uma vez que não há orçamento para pagar viagens. O próprio Guedes viajou com recursos próprios para compromissos em Brasília.