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Mostra 'retratos' inaugura espaço no Lasar Segall

Agência Folha 13/08/97 16h55
De São Paulo

O casal Vieira da Silva e Arpad Szenes retratou-se mutuamente de maneira sistemática e quase obsessiva por mais de 20 anos. Ela, portuguesa de Lisboa, e Szenes (lê-se ''sênes''), húngaro de Budapeste, são vistos nos quadros quase sempre juntos, fortemente abraçados. É com esse recorte intimista que o museu Lasar Segall, de São Paulo, inaugura seu novo espaço para exposições temporárias. ''Retratos'' estréia amanhã com 24 quadros pintados por Szenes (1887-1985) e cinco por Vieira da Silva (1908-1992), sua mulher de 1930 até a morte dele.

Apesar de a obra do casal estar associada à tradição abstrata, é o registro figurativo que domina essa seleção. Eles viveram no Rio de Janeiro durante sete anos, a partir de 1940 -fugindo da Segunda Guerra. De acordo com o crítico de arte Nelson Aguilar, que conheceu o casal pessoalmente e prefacia o catálogo de ''Retratos'', esse período ''contaminou'' de naturalismo a produção de Vieira e Arpad.

''Eles partiam de uma figura, mas sempre em busca da abstração, assim como Matisse. Quando chegam aqui, há uma forte presença naturalista por conta do modernismo brasileiro, de pintores como Portinari'', afirmou Aguilar, autor da tese ''Figuração e Espacialização na Pintura Moderna Brasileira: a Permanência de Vieira da Silva no Brasil 1940-1947''. ''Eles fazem uma meia-volta. Para participar da vida cultural brasileira, promovem uma conversão da abstração à figuração. Para um pintor que já atingiu a abstração, fazer alguma coisa figurativa é realmente uma redundância.''

Os retratos ''Maria Helena IV'' e ''Maria Helena XII'', ambos produzidos por Arpad em 1942, são legítimos representantes da fase brasileira. ''Essas obras estão dentro do espírito da arte moderna brasileira, aquela exigência da procura de uma imagem moderna, cujo grande defensor é Mário de Andrade e o grande exemplo é Portinari'', diz Aguilar.

O abraço, situação recorrente na mostra, foi trabalhado por Szenes à exaustão. O casal, abraçado, aparece geralmente no ateliê, junto a uma mesa. A representação começa figurativa, em 1930, para, em 1933, fundir Szenes e Vieira num ser único, no limiar da abstração. ''Nessa fusão há algo de monstruoso, espécie de ser híbrido de homem e mulher'', assinalou Aguilar. ''Tem uma coisa estranha, parece um filme do David Cronenberg... como se o amor fossem dois líquidos num só copo, e a mistura originasse um terceiro e único elemento.''(Por Fernando Oliva)


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