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Festival de música da Rede Globo reúne 10 mil canções

Agência Folha 07/03/2000 16h35
Em São Paulo

TOM CARDOSO
especial para a Folha

Preparem os aplausos e as vaias: o Festival de Música Brasileira está de volta. Organizado pela TV Globo e dirigido por Roberto Talma, o evento, orçado em cerca de R$ 9 milhões, recebeu até agora mais de 10 mil inscrições, que serão encerradas no próximo dia 15 de março.

Dois grupos de dez jurados vão analisar todas as canções inscritas e definir os 48 finalistas que irão disputar as quatro eliminatórias no Credicard Hall, em São Paulo, previstas para os dias 23 de agosto; 30 de agosto; 6 de setembro e 13 de setembro.

Em cada uma das quatro eliminatórias, serão escolhidas três músicas para a final, programada para o dia 23 de setembro, também na casa de espetáculo paulista. Tanto as eliminatórias como a final serão transmitidas ao vivo pela Globo, que ainda não definiu os horários.

Anos 60

Para comandar o complicado e exaustivo processo de seleção das canções, Talma chamou o experiente produtor Solano Ribeiro, responsável pela organização de vários festivais nos anos 60 e 70. “Durante a seleção, o júri (que será mantido em segredo até as eliminatórias) não saberá o nome do compositor; receberá apenas o CD e uma cópia da letra. Tudo vai ser feito com extrema isenção”, garante Solano, que está radiante em poder voltar a trabalhar em um festival.

A Rede Globo não organizava um festival de música desde 1985, quando lançou o Festival dos Festivais, revelando cantoras como Tetê Espíndola e Leila Pinheiro. Apesar do relativo sucesso, não despertou a mesma paixão e nem fez brilhar talentos como nos antigos festivais. “É como se eu estivesse trabalhando no meu primeiro festival. Não sei como o público vai reagir, não sei se as músicas vão ser boas. Apesar das mais de 10 mil inscrições, acho que vou ter dificuldades em encontrar 48 boas canções“, afirma o produtor.

Nem mal começou, o festival está causando polêmica. A primeira delas é em relação aos intérpretes das músicas. Pelo regulamento, a direção musical (que deve ser comandada pelo músico e arranjador César Camargo Mariano) vai ter autonomia para decidir se o candidato terá condições de interpretá-la no palco. Caso não tenha, o candidato pode indicar um cantor (que será novamente avaliado pela direção) ou aceitar a sugestão da organização do festival.

Polêmica

Alguns inscritos já reclamaram, mas Solano afirma que as decisões vão ser tomadas com muita calma e bom senso. “Não posso correr o risco de colocar uma pessoa desafinada cantando na maior emissora do país.”

Outro item do regulamento tem causado discussões entre os candidatos e a organização. A Som Livre (gravadora da Rede Globo) terá exclusividade sobre os direitos autorais dos 12 artistas finalistas durante 60 dias após o término do festival. Nesse período, as canções não poderão tocar nas rádios e os artistas estarão impedidos de assinar contrato com gravadoras.

O festival está aberto para artistas de todos os estilos. De sertanejos a punks, todo mundo pode participar. Solano garante que não haverá nenhum tipo de censura, tanto da organização como do alto escalão da Globo.

Aliás, a censura foi a grande responsável pelo enfraquecimento dos festivais. Apesar dos artistas na época estarem no auge de suas carreiras, os censores incomodavam muito os organizadores e chegavam a influenciar no resultado do júri.

“Com a chegada do AI-5 (Ato Institucional nº 5, decreto assinado pelos militares em 1968, que intensificou a censura e a repressão no país) os festivais foram perdendo sua força e nunca mais voltaram a ter a mesma energia”, conta o produtor.

Histórias

Solano lembra de algumas histórias engraçadas envolvendo a censura na época. Quando a Globo estava organizando o Festival Internacional da Canção, de 1972, ele e o diretor de eventos da emissora, Augusto César Vanucci, foram chamados para uma reunião no Departamento de Censura do Rio de Janeiro. Foram recebidos com cafezinhos.

“Os militares começaram a dizer que não teriam restrições ao festival, que confiavam na emissora de Roberto Marinho. Eles só fizeram uma exigência: como a transmissão do festival seria uma das primeiras em cores e contaria com cantoras estrangeiras, que, segundo eles, usavam roupas transparentes, os câmeras da Globo não poderiam fazer closes, pois os seios em cores passavam uma imagem muito voluptuosa. Saímos de lá às gargalhadas.”

Mais informações: 0/xx/11/5681-3010 e 0/xx/21/870-9021

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