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Pandeiro invertido diferencia os sons de Marcos Suzano

CARLOS BOZZO JUNIOR 16/05/2000 08h00
especial para a Folha de S.Paulo

Tocar “oriednap” é apenas uma das funções do músico, compositor, arranjador, produtor e processador de sons Marcos Suzano, que lança “Flash”, seu segundo CD.

Ele explica melhor: “Tocar pandeiro ao contrário é uma das características que fez com que me destacasse dos outros músicos”, disse o carioca, que toca o instrumento de maneira invertida, pois, dentro da lógica do movimento realizado para tocá-lo, normalmente se começa batendo na pele do pandeiro com o punho para depois atingi-la com as pontas dos dedos. Em suma, o movimento é punho e ponta. Ele faz ponta e punho, emitindo um acento difícil de conseguir.

Com “Flash”, o músico mostra que tocar pandeiro invertido não é sua única característica. Suzano traz um olhar para a frente e faz música instrumental brasileira sem nenhum ranço. Talvez porque já na adolescência tenha sido um garoto rebelde, que “chapou” ouvindo a batucada do bloco Caracol de Copacabana, enquanto era fã de grupos de rock como Ten Years After, Led Zeppelin e Pink Floyd. Juntou uma moçada e comprou uma “pá” de instrumentos de percussão para batucarem na rua. Tocava de tudo: repenique, caixa, mas ficou com o surdo, porque gostava do grave. Só que foi uma cuíca que o colocou em um estúdio aos 16 anos, pela primeira vez, para gravar um frevo.

Assistindo na TV um programa sobre Clementina de Jesus, “chapou” novamente. Desta vez, com o som de Jorginho do Pandeiro, do grupo Época de Ouro, e adotou o instrumento.

Formado em economia, teve durante sua graduação várias tardes passadas na casa de Hermeto Pascoal. Conheceu muita gente relacionada à música, o que o levou a um encontro com Radamés Gnattali, culminando na gravação de “Remexendo”.

Depois disso, vieram os grupos Nó em Pingo d’Água e o Aquarela Carioca, além de gravações e shows, ao lado de Zé Kéti, Marisa Monte, Zizi Possi, Gilberto Gil, Lenine, Otto e outros.

Em 86, assistiu um show de Miles Davis e quase parou de tocar por ter enxergado a música mais a fundo. Em seguida, se animou com o chamado de Paulo Moura para integrar um grupo que iria compor em cima dos ritmos de cultos afro-brasileiros.

Escutando a tabla do indiano Zakir Hussain e o berimbau de Naná Vasconcelos, chegou à conclusão de que o pandeiro deveria ser sua voz e passaporte.

Afrouxou a pele do instrumento, fixou um silvertape nela e sampleou vários sons com ele, criando um timbre e uma maneira de tocar hoje imitada pela maioria dos ritmistas.

Incluiu um cajon (instrumento criado no Peru) em seu set, comprou também uma pilha de discos, entre eles, Prodigy e Goldie.

Mas logo tudo deve mudar, pois Suzano não é artista de repetir uma mesma levada.

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