BUSCA Miner



Anterior | Índice | Próxima

Pearl Jam larga o grunge para virar U2

LÚCIO RIBEIRO 16/05/2000 08h04
da Folha de S.Paulo

Descontada a chegada do novo CD de Britney Spears, esta terça-feira (16) é das mais nobres no quesito “lançamento de discos”. Ganha hoje as lojas dos EUA os aguardados discos das históricas bandas Sonic Youth e Pearl Jam.

Quer notícia melhor? “Binaural”, o sexto álbum do Pearl Jam, sai simultaneamente no Brasil (incrível!). E com uma semana de vantagem frente à Inglaterra (incrível 2!).

À primeira audição, “Binaural” faz os apreciadores do tradicional hard rock emergencial do Pearl Jam torcerem o nariz.

O disco sinaliza que, quase dez anos de estrada depois, a banda está soltando suas amarras de única herdeira do som de Seattle para virar um grupo de rock “universal”, daqueles sem qualificações especiais.

Pearl Jam: uma banda de rock. E ponto. É Eddie Vedder, o indefectível guerreiro do rock honesto, buscando o que sempre quis: ser Neil Young.

Última grande banda viva da última grande revolução roqueira, o Pearl Jam busca com seu “Binaural” universal uma música mais adulta, “trabalhada”.

Para o bem ou para o mal, o disco mostra que o Pearl Jam está agora menos para o Soundgarden e mais para os Rolling Stones atuais.

Talvez seja mesmo hora de jogar a pá de cal no movimento que transformou o rock no início dos 90. Numa coincidência temporal, os nova-iorquinos do Sonic Youth, espécie de padrinho da explosão grunge de Seattle, dá o aval.

Em “NYC Ghosts & Flowers”, álbum que também é lançado hoje (mas infelizmente só na América), o Sonic Youth crava seu recado na canção “Nevermind - What Was That Anyway?” (“Nevermind - O Que Foi Aquilo Mesmo?”), em referência explícita ao Nirvana e ao som de Seattle.

Voltando ao Pearl Jam e a este “Binaural”, o jeito é deixar o disco rolar e rolar e rolar. Assim, Eddie Vedder vai te ganhando, como sempre fez.

A garra, paixão e intensidade que Vedder sempre empregou ao som do Pearl Jam ainda estão lá, mas o vocalista sabe que a moçada da camisa de flanela envelheceu. Em um tempo que o rock pesado é ditado por grupos de palhaços (o sentido é literal), “Binaural” representa uma espécie de contraponto sensato, para quem isso possa interessar.

Talvez das 13 músicas do disco, apenas duas ou três delas caberiam em um disco do Pearl Jam do começo da década. E essas são as punjantes “God’s Dice”, “Thin Air” e “Insignificance”.

Mas a porção U2 se mostra mais presente, e temos as belas e (mas) grandiosas “Light Years”, “Nothing as It Seems” (o single), “Parting Ways”.

“Binaural” é um disco dois em um. Na mesma medida que o rock de hoje precisa de um CD deste tipo, a nova obra do Pearl Jam é em parte um álbum totalmente fora de seu tempo.

Mas, para qualquer lado que se encaminhe o pêndulo da banda, “Binaural” é um bom disco. E assim caminha o Pearl Jam para o novo século.

Clique aqui para ler mais de Ilustrada na Folha Online

Anterior | Índice | Próxima

 EM CIMA DA HORA