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Nelson Gonçalves é velado na Câmara Municipal do RJ

AJB 19/04/98 10h25
DO RIO

Está sendo velado no salão principal da Câmara Municipal do Rio de Janeiro o corpo do cantor Nelson Gonçalves, que morreu ontem, às 21h15, vítima de uma fulminante parada cardíaca enquanto conversava com a filha Margareth na casa dela na Gávea (Zona Sul), onde esteve hospedado nos últimos seis meses. O sepultamento está marcado para às 15 horas, no cemitério São João Batista, em Botafogo (Zona Sul).

A família informou que Nélson, 78 anos, estava se submetendo a exames de saúde de praxe, não sofrendo, nos últimos meses, de qualquer tipo de doença mais grave. Não houve tempo sequer para que o cantor recebesse atendimento médico.

Adorado pelas fãs e considerado o sucessor de Orlando Silva nos anos 40, o cantor superou problemas com drogas entre as décadas de 50 e 60 e vivia um momento especial em sua carreira. Em 1996, foi homenageado no espetáculo teatral Metralha (apelido que Nelson carregava devido a seus problemas de gagueira), criado e dirigido por Stella Miranda, com Diogo Vilella no papel de Nélson. No ano passado, gravou um disco dedicado ao rock brasileiro, com enorme sucesso. Até o fim da vida, continuava vendendo a média de 100 mil discos por ano. Mas não se considerava um fenômeno. Certa vez, falando de seu maior ídolo, Frank Sinatra, ele se definiu: " Sinatra, sim, é um verdadeiro fenômeno. Eu não. Sou um cantor como outro qualquer".

Na certidão de nascimento, Nelson veio ao mundo como Antônio Gonçalves Neto em 21 de junho de 1919 na cidade de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul. Foi para São Paulo com a família em 1925, onde morou no Brás. Até ali era Antoninho. Só mais tarde apareceria o verdadeiro Nélson Gonçalves. " Nélson era muito mais sonoro", se justificava. E era este Nélson, engraxate, boxeador, malandro, mulherengo e, principalmente, boêmio, que chegaria ao Rio de Janeiro nos fins da década de 30 e que o público aprendeu a admirar. Nélson, como nenhum outro cantor brasileiro, encarnava a mística da boemia. Desde o samba de estréia, Sinto-me bem (Ataulfo Alves), gravado em 1941, até suas últimas gravações, ele se manteve fiel ao estilo marginal romântico, cantando músicas de forte apelo popular.

O estudioso Ricardo Cravo Albim recebeu a notícia da morte do cantor com emoção: "Estou chocado. Nélson vai fazer uma falta visceral. Poucas pessoas no Brasil tiveram sua apetência e persistência para cantar. Ele nunca deixou de ser o rouxinol do Brasil". Além da fama de boêmio, Nélson tinha a personalidade marcada pela impetuosidade e pelas reações violentas. "Só não sou bruto com as mulheres. Com elas, sou um romântico. Agora, nunca fui de levar desaforo para casa. Trato bem que me trata bem". Isso lhe valeu na infância. Magro, Nélson sempre levava a pior nos jogos de futebol e nas brincadeiras da molecada. Não gostava. Daí sua opção pelo boxe.

Entre os maiores sucessos da carreira do cantor, estão Maria Bethânia, Último desejo, Fica comigo esta noite, Normalista e A volta do boêmio. Nélson, que cantou: Só pretendo morrer/depois de 2001, não conseguiu chegar lá. O boêmio não mais regressa.


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