BUSCA Miner



Índice | Próxima

Marcelo Rubens Paiva expõe homem “feminino” em peça

da Folha de S.Paulo 30/05/2000 09h26
em São Paulo

Ele lava louça, prepara chá, deseja imensamente ter filhos e reclama da mulher na cama, mais interessada no lixo televisivo do que na qualidade da transa.

Ela é extremamente dedicada à carreira, sonha com especialização no exterior e acha que ter filhos é perda de tempo.

Não, os pronomes acima não estão trocados.

O músico Kito e a médica Aline são o casal protagonista da nova peça de Marcelo Rubens Paiva, “Mais-Que-Imperfeito”, que participa nesta terça-feira (30) do projeto Leituras de Teatro no auditório da Folha.

Os atores Paulo Betti, Maria Ribeiro, Clara Garcia e José Rubens Chachá compõem a mesa de leitura. A direção é de Rafael Ponzi.

Em “Da Boca pra Fora - E Aí, Comeu?” (99), três homens desbocados fazem piadas sobre mulheres, enquanto um deles sente na pele a separação, apesar de fingir que não é com ele. Agora, na segunda parte da sua “bilogia”, Paiva conta a história de um casal em vias de romper o casamento.

Ou seja, o texto transita o “durante”, quando Kito e Aline constatam a crise na relação, e o “antes”, quando ambos tentam identificar as raízes dos porquês.

Essa viagem prospectiva tem início quando Laura, colega de trabalho de Aline, entra em cena. Casada, três filhos e recém-separada, ela reencontra Kito, que foi um amor da adolescência.

As lembranças estimulam em Kito o idílio amoroso da cara-metade, quando projetava uma mulher que cuidasse dele, e vice-versa. Daí a brecha para a separação.

O processo todo é acompanhado por Rui, o vizinho “galinha” do casal. Cabem ao personagem falastrão os momentos mais abertamente cômicos da peça, cujo desfecho expõe um tom dramático.

Segundo Paiva, “Mais-Que-Imperfeito” é “uma comédia aristotélica com final triste”. Mas ele prefere deixar o futuro de seus personagens em aberto _talvez um aceno de esperança.

A nova peça reafirma um tema que também está em “Da Boca pra Fora” (Prêmio Shell 99): a dificuldade de construir relacionamentos sem maiores neuras.

O casal de Paiva parece refletir os novos tempos: a mulher mais preocupada com a carreira e o homem mais sensível, mais feminino, na definição do autor.

“Mais-Que-Imperfeito” será montada no próximo semestre, no Rio, com direção de Ponzi. Será a terceira peça do escritor e colaborador da Folha a chegar ao palco. Depois de “Da Boca pra Fora” e “525 Linhas” (89), permanecem inéditas “Meio-Fio” (92) e “Closet Show”, parceria com Ana Cláudia Zambianchi.

Paiva não concorda que seu entusiasmo recente pelo teatro, sobretudo depois de “Da Boca pra Fora”, o encaixe no filão de uma “nova dramaturgia”.

“Discurso de “nova dramaturgia” é igual à seleção brasileira: ninguém sabe exatamente o que é. O teatro tem 2.500 anos, é mais velho que o cristianismo. Como decretar o que é novo?”

Concorda, porém, que pode ser inserido na dramaturgia contemporânea que reflete novos mitos do relacionamento afetivo, nos quais “um homem mais feminino e a aceitação mais frequente das opções sexuais”, por exemplo, determinam novos paradigmas para a vida a dois.

A leitura de “Mais-Que-Imperfeito” começa às 19h30, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos). A entrada é franca. Os interessados em comparecer devem fazer reserva pelo telefone 0/xx/11/224-3473, das 14h às 17h.

(Valmir Santos)

Clique aqui para ler mais de Ilustrada na Folha Online

Índice | Próxima

 EM CIMA DA HORA