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Moradores convivem com a insegurança

04/06/2000 10h38
da Folha de S.Paulo

Os moradores que habitam loteamentos irregulares temem que um dia a casa caia. A maioria sabe que pode acordar com um oficial de Justiça à porta ou com a tropa de choque pronta para fazer cumprir a reintegração de posse.

Na quinta-feira (1), a dona-de-casa Rosângela Maria de Araújo Bezerra, 34, levou um susto quando viu um carro parado à frente da União dos Moradores do Jardim Aurora, na zona leste.
"Pensei que fosse alguém com uma intimação para que a gente saia daqui", afirmou. Ela estava enganada. Era o carro de reportagem da Folha.

"A gente vive assustada depois do que aconteceu no Jardim São Carlos (em Guaianazes)", afirmou Rosângela. Há quatro anos, ela, o marido e dois filhos construíram sua casa no Jardim Aurora.

Depois vieram dois cunhados e um irmão, que, a exemplo de Rosângela, adquiriram lotes no local. Como ela, outras 5 mil famílias fizeram o mesmo. Mas a área está em litígio.

Apesar de exibirem, orgulhosos, um recibo de compra e venda datilografado, os moradores temem que apareça um dono para reclamar a área.

E esse fantasma tem nome: Dorival Antonio Biella. Ele ficou conhecido no dia 19 do mês passado, quando a tropa de choque o ajudou a obrigar moradores do Jardim São Carlos, em Guaianazes, zona leste, a desocupar suas casas. Biella também se diz dono de lotes no Jardim Aurora.

Com um documento na mão que lhe garantia a reintegração de posse de 300 casas, naquele dia Biella passava imponente, cercado por 40 homens da tropa de choque, entre os lotes.

A cena lembrava o tempo dos nazistas, na Alemanha. Com uma lata de tinta vermelha, um fiel escudeiro do advogado tingia com um "xis" as paredes condenadas.

Depois que as casas viraram um amontoado de ferros retorcidos e blocos, a Justiça começou a questionar se Biella é mesmo o dono dos lotes que diz possuir.

O Jardim São Carlos é uma área de 38 mil metros quadrados, onde moram cerca de 2 mil famílias. Pertencia a Jacob Jordão da Silva Vargas, mas, desde sua morte, ninguém mais sabe quem é o dono. O que dá chance a "profissionais" como Biella.

O pedreiro Aparecido Aguilar, 45, morava no local havia 18 anos. "Quando cheguei, meu filho tinha seis meses. Depois, nasceram os gêmeos, que hoje estão com 10 anos." Ele não comprou o lote, mas o ocupou.

Quando Biella desfilou dia 19 pelo loteamento, a casa de Aguilar, de três cômodos, ganhou o "xis" vermelho da destruição. "Eu e a família estamos morando numa garagem."

O porteiro Júlio Francisco Alves, 45, comprou seu lote da Imobiliária Ferreira Franca, em Guaianazes. Mas por três vezes teve de recomeçar a construção.

Júlio só conseguiu concluir sua casa quando mostrou que havia pago pelo terreno. Dia 19, ele foi poupado da destruição.

No Jardim Pantanal, zona leste, 2.500 famílias convivem com a insegurança. O loteamento foi feito numa área que integra a várzea do rio Tietê. Quando chove, a maioria das casas é alagada, daí o nome.

No Jardim Pantanal, tudo é irregular _a começar pelo loteamento em si, as ligações de luz e de água. Mesmo assim, as pessoas relutam em abandonar o local.

(CHICO DE GOIS)
(SORAYA AGÉGE)

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