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Procuradoria não quer novo exame e considera promotor culpado

LUANA GARCIA 11/05/2000 21h26
repórter da Folha Online

Para a Procuradoria-Geral de Justiça, representada pelo procurador-geral José Geraldo Brito Filomeno, o caso do promotor Igor Ferreira da Silva, 34, acusado de matar sua mulher, grávida de oito meses, já está em fase de conclusão junto ao TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).

O assessor do procurador-geral, promotor Carlos Cardoso, afirma que nenhum exame complementar será pedido pela Procuradoria mesmo depois dos advogados de Igor terem entregado dois laudos ao TJ-SP contestando o exame de DNA assinado pelo perito Mário Hiroyuki Hirata, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo). Para ele, o laudo oficial assinado por Hirata é "irrefutável" e Igor já estaria "pronto para ser julgado".

Cardoso afirma que, apresentando novos exames, a defesa estaria apenas "desviando a questão central do processo para uma questão irrelevante". Para ele, independente da real paternidade da criança, apenas o conjunto de evidências circunstanciais e técnicas levantadas até agora já seriam um indício da culpa do advogado. "As provas levantadas são idôneas, consistentes, numerosas, convergentes e irrefutáveis", disse o promotor.

Ele afirma que a Procuradoria-Geral já manifestou sua posição em uma petição junto ao Tribunal de Justiça e aguarda apenas a conclusão do processo.

Igor Ferreira da Silva é acusado de matar sua mulher, a advogada Patrícia Aggio Longo, 28, que estava grávida de oito meses, no dia 4 de julho de 1998, em Atibaia, interior de São Paulo.

Os advogados de Igor, Márcio Thomaz Bastos e Dora Cavalcanti Cordani, encomendaram dois novos exames de DNA que apontariam supostas falhas graves no primeiro laudo, considerado oficial pelo Ministério Público. Os advogados inseriram os resultados no processo, que segue no Tribunal de Justiça, e querem que eles sejam considerados provas.

Infidelidade

O exame anterior, pedido também pelos próprios advogados de defesa do promotor, atesta que o bebê de Patrícia não era filho de Silva. A constatação acabou se transformando no principal eixo da acusação, de forma que, a partir do resultado, poderia-se concluir que Igor teria decidido matar a mulher quando descobriu a suposta infidelidade da esposa.

Os dois novos exames foram realizados com os pais de Patrícia _Maria Cecília Aggio Longo e José Longo Filho_ e constatam que a advogada não seria filha de seus pais a partir do código genético identificado por Mário Hirata.

Os exames foram feitos pelo Laboratório DNA Reference, de Porto Alegre, e pelo DNA Consult Genética e Biotecnia, de São Carlos. O DNA Reference utilizaria, segundo os advogados de Igor, os mesmos procedimentos do FBI (polícia federal dos Estados Unidos) e da Polícia Técnica do Canadá (Codis).

Outra suposta falha apontada pelos dois novos exames seria a respeito do código genético do promotor, que, desta vez, teria sido apresentado de uma forma diferente do apontado pela USP.

No exame apresentado pelo Laboratório Reference, de Porto Alegre, assinado pelo médico e perito judicial em DNA forense Luiz Fernando Jobim, doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o laudo de Hirata não teria "valor científico" e o laboratório utilizado não teria especialização em genética por ser "utilizado para pesquisa de vírus e bactérias". "O laudo de Hirata é um atestado de ignorância em DNA", afirma Jobim.

O segundo laudo, do DNA Consult, assinado pelo professor Euclides Matheucci Júnior, sugere ainda uma possível "contaminação da amostra analisada" no resultado alcançado pelo exame oficial.

Igor Ferreira da Silva está sujeito a pena de 15 a 40 anos de prisão por crimes de homicídio qualificado e aborto sem o consentimento da gestante.

Se o relator do processo, desembargador José Osório, do Órgão Especial do TJ, optar pela realização de um novo exame de DNA, o processo poderá se arrastar por pelo menos mais um ano. Se isto não acontecer, Igor Ferreira da Silva poderá ser julgado ainda este ano.

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