Anterior | Índice | Próxima

PMs matam mulher grávida e um menino na Zona Norte do Rio

AJB 16/10/98 17h24
Do Rio de Janeiro

Um menino de quatro anos e sua mãe, grávida de nove meses, foram mortos a tiros, no final da noite de quinta-feira, na Fazenda Botafogo, Zona Norte do Rio. A mulher, em trabalho de parto, estava sendo levada de carro para a maternidade, pelo marido, Sidney Vieira de Lima, 32 anos. O casal estava acompanhado dos dois filhos, um menino de quatro anos e uma menina de seis. Durante uma troca de tiros entre policiais do Batalhão de Rocha Miranda e ocupantes de um taxi- segundo os policiais -, o Passat em que a família estava foi atingido por vários disparos.

Sidney perdeu o controle do carro, que chocou-se contra um poste. Maria Cristina Gomes, 34 anos, grávida de nove meses e em trabalho de parto, morreu no Hospital Geral de Bonsucesso junto com o bebê. Ferido no ombro, Sidney foi levado para o Hospital Getúlio Vargas.

Uma carabina, utilizada pelos policiais, foi apreendida para exames de balística. No Passat, peritos encontraram perfurações produzidas por arma de grosso calibre, que atravessaram a lataria e atingiram Sidney e o filho do casal, que morreu dentro do carro.

Em depoimentos na delegacia, os policiais - sargento Joel Evaristo da Silva e o cabo Edilson Pires - entraram em contradição. Segundo o sargento, eles estavam fazendo patrulhamento normal próximo ao Morro da Pedreira, em Acari, quando um táxi Del Rey passou perseguindo o carro dirigido por Sidney. Ele deu três ou quatro tiros em direção ao táxi e parou quando ocorreu a batida do Passat com o poste. Segundo o cabo, os tiros foram dados por ocupantes do Del Rey em direção da patrulha. Moradores da região disseram que os tiros que atingiram o Passat em que estava Maria Cristina foram dados pelos policiais.

O irmão Sidney, o eletricista de automóveis Sérgio Roberto Vieira Lima, ficou transtornado quando recebeu a notícia da morte de sua cunhada, grávida do bebê Michael e seu sobrinho, Felipe. "Queria saber do governador Marcelo Allencar se ele vai dar medalhas de Honra ao Mérito aos PMs que fizeram isso. Pelo ato que praticaram eles são bandidos", indignou-se. Sérgio esteve de manhã na 40ª DP (Honório Gurgel) para saber o que fazer depois da tragédia. "Será que se o meu irmão ficar inválido o Governo vai cuidar da família dele?", questionava. O eletricista não se conformava com a perda dos parentes. "Quero justiça. Estes PMs não merecem forca, mas têm que ser punidos", opinou.

O eletricista contou que o irmão morava com a família na Rua Davi Brandão, na Favela da Lagartixa, em Acari (Zona Suburbana), a poucos metros de onde tudo aconteceu. A companheira de Sidney, Maria Cristina Gomes, começou a entrar em trabalho de parto e ele teria saído de casa para o Hospital Carmela Dutra, em Rocha Miranda. Antes, ainda iria deixar os filhos na casa da mãe, Nair, de 70 anos, na Estrada do Portela, em Inhaúma. "Os PMs disseram que estavam tentando acertar um carro que estava atrás do Passat do meu irmão? Então eles matam todos que estão na frente para acertar o alvo? Isto não funciona como prévia de defesa. Se eu aceitasse estaria assinando um laudo de imbecil", disse Sérgio, revoltado.

A versão mais aceitável para o eletricista de carros é que os PMs tenham feito algum sinal para Sidney e ele não parou o carro. "Meu irmão provavelmente estava apavorado porque a mulher estava para ter o bebê e estava muito mal. O bebê estava pedindo para nascer. Estes policiais merecem ir para o tribunal e não ficar por aí com AK-47 na mão e Ponto 30", declarou, Sérgio. Ele se preocupava, ainda, com a saúde do irmão. "Quero saber se ele está sendo bem atendido ou se vai ficar largado no hospital", desabafou.



Anterior | Índice | Próxima



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo
desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso,
sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.