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'Glória seria morrer no tribunal', diz Lins e Silva

da Folha de S.Paulo 05/04/2000 21h48

“Minha maior glória seria morrer aqui no tribunal do júri”, afirmou o advogado Evandro Lins e Silva, 88, durante o julgamento de José Rainha Júnior, líder do MST.

Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, das Relações Exteriores e chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, no governo de João Goulart, Lins e Silva salientou que o julgamento de quarta-feira (05) foi, provavelmente, o último júri de sua carreira. “Se Deus permitir”, brincou.

Sua participação, encerrando a defesa, foi decisiva no processo. A réplica da acusação e a tréplica da defesa se concentraram em uma tese defendida por ele: a de que o desaforamento (mudança de local) do primeiro julgamento provava a parcialidade do primeiro resultado, quando Rainha foi condenado por 4 votos a 3.

Lins e Silva lembrou que essa tese foi acolhida pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo quando permitiu o desaforamento.
“Se eles acharam que houve parcialidade na condenação por 4 a 3, é porque ele seria absolvido”, disse.
O ex-ministro foi a segunda pessoa mais citada durante os debates de ontem. Só perdeu para o réu.

Foi elogiado pelo juiz, deu autógrafos para os advogados de acusação e até aceitou posar para fotos com eles _que o chamavam de mestre. “É a idade”, disse, reconhecendo que se sentia envaidecido com a deferência.

Ele aproveitou seu tempo de fala para entremear passagens de sua vida com a defesa do acusado. Citou personagens históricos e defendeu a reforma agrária.

“Não adianta abolir a escravidão sem fazer uma reforma agrária”, disse, citando o abolicionistas. “Já se passaram mas de cem anos e nenhuma reforma foi feita”, reclamou.

Ele criticou a situação social do país, o processo de globalização e até o aumento do salário mínimo, classificado de “uma pilhéria” que foi oferecido “hipocritamente”. “Parece até escárnio”, definiu ele, sem perder o foco da questão em julgamento.

“O que se julga aqui é o homem. Não é nenhuma abstração. Não é aquela cana chupada que se joga fora”, comparou Lins e Silva.

“Do ponto de vista legal é uma causa fácil, em minha módica opinião”, afirmou ele durante sua fala, ressaltando que havia lido “as mais de 3.000 páginas” do processo “linha por linha”.

De manhã, contudo, o clima era outro, mais tenso. A chegada de Rainha ao Fórum de Vitória (Espírito Santo) provocou um início de tumulto. Foi aplaudido por cerca de 500 militantes do movimento, que tentaram romper o cordão de isolamento colocado pela polícia para impedir o acesso ao Fórum.

Com a reação dos policiais, um empurra-empurra entre os dois grupos foi iniciado.

Alguns dos policiais chegaram a levantar cassetetes e a colocar as mãos nos revólveres.



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