Barbara Abramo
especial para a Folha Online

"Outro mundo é possível" é o lema do Fórum Social Mundial, que acontece pela primeira vez a partir de 25 de janeiro, em Porto Alegre. Para a astrologia, basta olhar as efemérides, que trazem as posições dos astros, para observar que o Sol forma contatos astrológicos com Netuno, Júpiter e Urano. Esses contatos puramente simbólicos só existem como conceitos próprios da linguagem da astrologia.

O primeiro daqueles planetas é o próprio representante do "outro mundo". O ideal coletivo por uma sociedade mais justa parece estar ligado a Netuno. Descoberto na segunda metade do século 19, ele está relacionado à disseminação de modas, ideários e correntes ideológicas que desejam criar uma reprodução terrestre do que de melhor a mente humana concebe como alternativa à miséria, desumanidade e aos valores baseados na materialidade concreta, a saber, o dinheiro e o poder de destruição que ele (também) acarreta.

Ao mesmo tempo, Netuno comove as almas, acenando para a possibilidade de uma misericórdia melhor distribuída na coletividade. "Um outro mundo é possível", ao menos na vontade e na imaginação, no poder de mobilização das entidades que organizaram o Fórum Social Mundial-2001.

Júpiter, o outro dos planetas coletivos envolvidos no jogo celeste deste evento, promete a expansão desse sonho, a prosperidade anunciada e a aglutinação que cria prestígio, em volta de alguns pontos de vista, de algumas metas gerais temas também jupiterianos.

Por fim, Urano descoberto durante a revolução francesa de 1789 assinala que as comunicações e a tecnologia terão papel importante nesse encontro que deseja criar alternativas para que um outro mundo melhor seja criado. Fraternidade, igualdade e liberdade são as bandeiras de Urano, associadas ao sonho de um mundo melhor um outro mundo, não o dos extraterrestres que virão nos salvar de nossa própria incompetência ou maldade, de acordo com alguns, nem dos seres imateriais que, em sua dimensão angelical, nos sustentam no desespero, segundo outros.

Não, a perspectiva de que "esse outro mundo" exista de verdade está mobilizando milhares de pessoas sob um céu que nos protege: o de Porto Alegre, a cidade tomada por Bento Gonçalves, quando Netuno, Júpiter e Urano desenharam no céu, da última vez, promessa semelhante guardadas as proporções históricas.

Em 1835, durante a Revolta dos Farrapos (outro nome sugestivo que exibe o símbolo do rebelde Urano e do despossuído Netuno), lá estavam Júpiter em Gêmeos da comunicação, Netuno do ideal e Urano da renovação unidos em Aquário, signo da reforma e das mudanças de pensamento. Aquário é o signo que simboliza a socialização das descobertas cientificas e técnicas. Prometeu, o herói grego que roubou o fogo dos deuses, é o mito deste signo da mudança.

Prometeu ensinou os homens a usar o fogo para criar a civilização e assim parece ser com esse encontro, que ocorre sob este signo: aglutinar grandes parcelas de pessoas, reunidas de forma fragmentada em centenas de pequenos e médios grupos, diferentes entre si, para debater as alternativas por um mundo melhor.

O processo sócio-econômico denominado de globalização _com suas consequências para a coletividade humana_ será o tema central, e que costura a identidade de cada um dos debates, oficinas (mais de 400) e dos inúmeros encontros que estarão acontecendo ao mesmo tempo durante o FSM, relembra a última vez os planetas da coletividade desenharam no céu aspectos semelhantes e mística subjacente parecida: os movimentos socialistas do século 19.

Sob o céu de Porto Alegre, na noite do 25 de janeiro, brilharão as estrelas do tempo presente, quando despontar a estrela mais brilhante da constelação dos Argonautas, Canopus, além de Sirius, a estrela alfa da constelação do Cão Maior.

Mas o que prometem essas estrelas do céu? Uma das estrelas mais brilhantes, visível da Terra e muito importante na astrologia antiga, Sirius promete grande sucesso, honra e renome, e anuncia boa reputação e fama. Canopus, do navio dos Argonautas _aqueles heróis gregos que foram em busca de um ideal quase impossível, partindo em viagem demorada e perigosa_ promete sucesso, fama e glória.

Canopus está presente no advento de personagens dotados de conhecimento amplo e faz prosperar os viajantes. Mais do que isso: designa os acontecimentos que têm potencial para transformar o mal em bem, disseminando a piedade.

Um antigo método astrológico consiste em verificar os chamados simbolismos dos graus zodiacais. Existem dezenas de compêndios e um deles, conhecido por Volosfera (cujo original remonta ao século 17) designa, para o horário em que o Fórum Social Mundial irá ser inaugurado, na noite de 25/1: "Em um céu sereno, uma estrela magnífica ilumina um canteiro de flores, junto das quais um cordeiro deitado porta uma coroa ornada também com uma estrela." Compreendido de forma simbólica e genérica, não há duvida de que são sinais promissores.

Além desses sinais, observa-se,na carta astrológica do inicio do evento, a oposição entre Marte e Saturno, sempre presente nos momentos em que o povo brasileiro se contrapôs de forma organizada ou não ao poder central inclusive quando D Pedro I proclamou a independência, em 7/9/1822.

Aliás, ambos os planetas sugerem, em seu desenho cósmico, certos ecos do passado, como se a história cruzasse o tempo e interviesse de maneira mágica, revivendo uma plataforma de sonho que foi gestado ao longo dos séculos nesta América. Há alguns anos sabemos que janeiro de 2001 marcaria o momento astrológico em que novas ações político-sociais na América aconteceriam, englobando os movimentos revolucionários e alianças econômicas em um programa relativamente próximo.


Davos x Anti-Davos

O caráter "anti-Davos" do Fórum Social Mundial está também representado na carta astrológica da inauguração do evento de Porto Alegre. A diferença de fuso horário entre o início dos dois eventos um aqui no Brasil, em Porto Alegre, e o outro, no 31º ano desde sua inauguração, na cidade européia de Davos, opõe no plano concreto da Terra a oposição celeste entre os que desejam a transformação (Marte) e os que se mantêm no controle da riqueza e do status quo (Saturno em Touro).

Neste conflito, a fragmentação das diversas propostas sociais e dos diversos projetos ideológicos poderão resultar na dor, provocada pelo desencanto diante da impossibilidade de concórdia entre propósitos desencontrados, o que ameaça a realização de uma agenda mínima, capaz de contemplar as diversas reivindicações dos grupos participantes algumas delas irredutíveis.

Mas esse perigo existe ao lado de uma possibilidade mais generosa e mais misericordiosa: a de que esta dor seja a de um parto, em que renasça alguma esperança de que os seres humanos possam sonhar por um outro mundo, melhor. E quem pode dizer que os sonhos e os sentimentos não movem mesmo a alma humana? É ver para crer!