Prêmio
Folha Categoria Reportagem 1996
Hizbollah
atrai ataques a bairros pobres
21/04/96
Editoria: MUNDO
Autor:
IGOR GIELOW
O
Hizbollah funciona como um governo paralelo dentro da capital libanesa
Beirute. Assim como o tráfico nos morros no Rio de Janeiro,
os membros da organização tomam para si funções
públicas, como segurança e distribuição
de comida em estado de emergência.
Na
sexta-feira, a Folha visitou bairros do setor árabe
de Beirute dominados pelos Hizbollah e entrou em contato com um
dos líderes do grupo entre os bairros de Ghoberi e Baada
(zona sul).
Profeta
Ele se identificou como Mohamed _homenagem ao profeta islâmico
Maomé e espécie de ''identidade comum'' dos homens
do Hizbollah.
Magro, cabelos negros e barbado, Mohamed se aproxima do estereótipo
de guerreiro muçulmano divulgado no Ocidente.
Entre 9h00 e 9h20 locais (3h00 e 3h20 em Brasília), ele contou,
nos fundos de um pequeno bar, como funciona a administração
do bairro. Mohamed se diz responsável por três quarteirões.
Por responsabilidade compreende-se a distribuição
de colchões e mantimentos para desabrigados vindos do sul
e a corte marcial para pequenos crimes.
Perguntado sobre como ditava as regras, o misto de guerrilheiro
e assistente social colocou uma pistola automático sobre
a mesa.
E riu. ''Não se preocupe sabemos que tem muito libanês
no Brasil. Gostamos muito do Brasil'', disse. Mohamed estava calmo
e bem-humorado.
Só mudou o semblante quando o assunto era Israel. ''Assassinos'',
disse em inglês com sotaque francês. ''Tenho 28 anos
e, se morrer para evitar o domínio dos judeus, vou estar
satisfeito''.
Apoio
Bilal al Jaffar, 38, que mora ao lado do bar, diz gostar da presença
do Hizbollah. ''Eles estão aqui para ajudar''.
O comerciante Al Jaffar abriga uma família muçulmana
que fugiu de aldeia perto Nabatieh (sul).
Outro comerciante, que não quis se identificar, ressalvou:
''Inocentes morreram pelas leis deles (Hizbollah).''
Os bairros comandados pelo Hizbollah se estendem pelas zonas sul
e leste da cidade, margeando e subindo pequenos morros _com ruelas
que reforçam ainda mais a comparação com o
Rio.
Nas ruas, cartazes enormes do aiatolá Ruhollah Khomeini,
líder da revolução que fez do Irã uma
república islâmica e foco irradiador do fundamentalista
xiita pelo Oriente Médio em 1979.
Em outros cartazes, louvando a luta contra Israel, aparece o presidente
iraniano, Ali Akhbar Hachemi Rafsanjani.
Alvos
Esses são os bairros-alvos da atual ofensiva israelense.
Eles não estão incluídos no programa de reconstrução
do Líbano, que passou por 15 anos de guerra civil entre cristãos
e diversos grupos muçulmanos, ligados ou não à
Síria.
Na sexta e na quinta não houve ataques. Mas poucas pessoas
andavam pelas ruas além dos sentinelas do Hizbollah e alguns
soldados libaneses.
Os prédios apresentam marcas da guerra civil: não
há, na região em torno do aeroporto da cidade, edifício
inteiro.
Não existe sirene alertando sobre os bombardeios. Segundos
morados, um ou dois olham para o céu de dez em dez minutos
para avisar sobre ataques e um quarteirão tenta se abrigar
em caso de ataque.
O que é inútil: os foguetes disparados pelos helicópteros
Cobra israelenses costumam arrasar qualquer tipo de construção.
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