Conexão Manágua
Caso Diniz apontou ligação


18/06/1993
Editoria: Cotidiano
Página: 3-6


Da Reportagem Local

Os dez sequestradores do empresário Abílio Diniz, presos em São Paulo em 1989, disseram à Justiça que o dinheiro do resgate iria para o Movimento Revolucionário de Esquerda (MIR), organização chilena.
Chefiados pelo argentino Humberto Paz, 38, eles sequestraram Diniz em 11 de dezembro de 1989. Foram presos na zona sul de São Paulo uma semana depois, na véspera das eleições presidenciais do 2º turno. Humberto Paz e a chilena Maria Marchi Badilla, 47, também foram indiciados como participantes dos sequestros de Luiz Sales, em 89, e de Antonio Beltran Martinez, ex-vice-presidente do Bradesco, em 86.
Os sequestradores tinham ligações com pelo menos 12 grupos diferentes da América Latina. Humberto Paz e seu irmão, Horácio, 40, já haviam promovido sequestros na Argentina em nome de grupos políticos. Dossiê elaborado pela Interpol revelou que os dois canadenses do grupo, David Spencer e Christine Lamont, haviam sido redatores do jornal "El Rebelde", de El Salvador.
Todos entraram no Brasil com o status de exilados políticos, concedido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

Documento é 'elo perdido'
A descoberta dos documentos em Manágua é o "elo perdido" que a Interpol, a Polícia Internacional, vinha buscando para ligar os dez sequestradores do empresário Abílio Diniz a um movimento mundial de arrecadação de fundos para grupos políticos.
Os sequestradores de Diniz passaram por Cuba, Nicarágua e El Salvaodor, onde tiveram treinamentos de guerrilha", diz o delegado Romeu Tuma Jr., que elaborou dossiê do sequestro para a Interpol. "Não tenho dúvida de que essa conexão é mundial e se alastra até a Europa" , diz.
A afirmação do delegado ganha amplitude quando confrontada ao inquérito sigiloso sobre o sequestro de Diniz, ao qual a Folha teve acesso. Ali consta depoimento do sequestrador chileno Pedro Lembach, 37. Ele relata ao delegado Waldomiro Bueno Filho, da Polícia Civil de São Paulo, um encontro entre grupos de esquerda, de todo o mundo, ocorrido em Hamburgo, na Alemanha, em 1988, onde os 150 participantes decidiram pela promoção de sequestros, na América Latina, para arrecadar fundos.
Dossiê elaborado pela Interpol e pela Polícia Federal revela que, também em 1988, teria havido outra reunião em Buenos Aires, na Argentina, com a presença de um oficial do birô político do Partido Comunista Cubano. Na reunião foi deliberado que os movimentos políticos deveriam arrecadar fundos através de sequestros de empresários. Ainda consta nas investigações outra reunião de igual teor, ocorrida em São Paulo, em 12 de junho de 1986, comandada pelo Partido Comunista do Chile-Coordenação Brasil (PCC-CB), três meses antes do sequestro de Beltran Martinez. (CJT)


Leia mais
Provas indicam origem de sequestros


Prêmio Folha

Conexão Manágua

Mercado de Voto

Segredos do Poder


Educação

Conflito no Líbano

Folha revela como empreiteiras e bancos financiaram o jogo eleitoral

Fotos e documentos derrubam versão oficial do caso PC

Prêmio Folha Categoria Fotografia
Pátria armada
Dia de terror
São Paulo de patins
Tentativa de assalto
PC no IML
Socorro. Polícia
Miragem
Garimpeiros do lixo



Veja todos os vencedores dos anos anteriores
1999

1998

1997

1996

1995

1994

1993

subir

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.