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O grupo de Micha Drukker já havia demonstrado que células-tronco embrionárias humanas são capazes de expressar altos níveis de proteínas MHC-I (antígenos HLA classe I) e que podem então ser rejeitadas após o transplante [PNAS, 99(15):9864-9, 2002].
Creio que, como professora de Imunologia, tenho que me manifestar para evitar a propagação de conhecimento inadequado que pode redundar na elaboração errônea de estratégias para terapia. Cabe lembrar que as abordagens propostas por vários grupos de cientistas para vencer a barreira alogênica, que consistem na criação de 'banco' de células embrionárias congeladas, previamente tipadas para HLA, e no desenvolvimento de clonagem terapêutica, não possuem amparo legal em nosso país. Fora isto, resta a utilização de células-tronco adultas, reprogramadas ou não, obtidas do próprio paciente (células autólogas). Em relação ao artigo citado no NYT sobre a recusa ao teste de células embrionárias humanas em pacientes por parte de Steven Bauer (Chefe da 'FDA Cell and Tissue Therapy Branch'), achei plausível sua cautela diante de uma solicitação de enorme peso: 21.000 páginas!
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Agradeço suas palavras. É importante estarmos alertas. Veja só: foi anunciado no último dia 12, por uma importante empresa de biotecnologia sediada na Califórnia, a obtenção de células-tronco embrionárias humanas com finalidade terapêutica capazes de evadir o ataque direto do sistema imune humano, sendo sugerido, no mesmo trabalho, que 'o emprego de linhagens de células-tronco embrionárias humanas específicas do paciente para prevenir rejeição imunológica pode não ser necessário'. O potencial de evasão imune das células apresentadas pela empresa foi atribuído à ausência de expressão de antígenos HLA classe II e de outros marcadores de superfície celular envolvidos na ativação de linfócitos T. Entretanto, relatam que estas células exibem expressão normal de antígenos HLA classe I, justamente as moléculas que levam à sua destruição (rejeição) por células NK da imunidade inata e/ou por células T CD8+ (linfócitos T citotóxicos) da imunidade adquirida. Percebeu a 'contradição'? CONTINUA
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Porque não existe (vai existir?) efetividade comprovada deste tratamento para justificar tal liberação ().
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Portanto, a celeuma é científica! Quantos embriões seriam necessários para uma única terapia? Dentre os embriões congelados, quantos seriam HLA-idênticos a um determinado paciente para que a terapia fosse eficaz? Tal probabilidade, entre dois indivíduos não-relacionados (não-aparentados), em um país de alta diversidade genética como o Brasil, resulta do produto das combinações dos alelos conhecidos para cada locus HLA clássico. Segundo os dados de 1997 (24 alelos HLA-A, 9 alelos HLA-C, 49 alelos HLA-B, 17 alelos HLA-DR, 7 alelos HLA-DQ e 6 alelos HLA-DP), a probabilidade de encontrar dois indivíduos HLA-idênticos seria de 1:1.487.779.650.000, ou seja, de 1 entre 1 milhão e meio (cd_completo_inmunologia_2004_alonso.zip - ZIP archive, unpacked size 85.706.376 bytes). Além disso, os dados mais recentes revelam um número muito maior de alelos para cada locus HLA clássico, dificultando ainda mais o encontro de dois indivíduos HLA-idênticos não-aparentados (Bochtler W e colabs., Bone Marrow Transplant. 2007 Jun;39(12):737-41).
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A Imunologia, ciência que dita regra para terapia com células, tecidos e órgãos, ensina que células nucleadas (incluindo óvulo e espermatozóide) expressam moléculas protéicas codificadas pelo MHC - Complexo Principal de Histocompatibilidade, denominado HLA em humanos (cromossomo 6), as quais registram biologicamente cada indivíduo de nossa espécie: seu papel fisiológico é o de apresentar peptídeo para linfócitos T, mas elas também atuam como 'elementos de distinção' entre o próprio e o não-próprio em sistemas de transplantes. Tais moléculas são o alvo da reação de REJEIÇÃO de aloenxerto quando o doador e o receptor não são HLA-idênticos: comumente é contra-indicado transplante de medula óssea (transplante de células-tronco adultas) na vigência de incompatibilidade HLA entre o paciente e seu provável doador (devido não só à rejeição das células pelo paciente, mas também à reação de enxerto x hospedeiro que pode ser fatal); para outros tipos de transplante, como os de órgãos sólidos, o requisito de compatibilidade HLA entre doador e receptor é bem mais flexível. A obrigatoriedade em seguir a regra imunológica de transplantação para terapia com células-tronco embrionárias é enfatizada pelo Dr. Shynia Yamanaka em seu recente artigo de revisão (Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci, 363(1500):2079-87, Jun 2008). Daí a importância em se empenhar na terapia com células-tronco autólogas (obtidas do próprio paciente). CONTINUA
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"Pesquisa com células embrionárias fracassou" (www.andoc.es/) - Segundo a Dra. Natalia López Moratalla, catedrática de Biologia Molecular e Presidente da Associação Espanhola de Bioética e Ética Médica, "existem cerca de 600 protocolos que utilizam células-tronco adultas, e não se apresentou nenhum com células de origem embrionária". As células adultas "possuem o mesmo potencial de crescimento e de diferenciação das células-tronco embrionárias e substituem muito bem as possibilidades de biotecnologia sonhadas para aquelas". "As últimas descobertas sobre as possibilidades terapêuticas das células-tronco adultas põem em suspeita, abertamente, as duas grandes 'promessas' propiciadas pela nova lei espanhola de biomedicina: o uso e criação de embriões para pesquisa, e a chamada clonagem terapêutica", reiterou.
É importantíssimo acrescentar as palavras do Dr. Shynia Yamanaka: "Embryonic stem cells are promising donor cell sources for cell transplantation therapy, which may in the future be used to treat various diseases and injuries. However, as in the case for organ transplantation, immune rejection after transplantation is a potential problem with this type of therapy" (Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci, 363(1500):2079-87, Jun 2008).
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Diferentemente do observado na espécie humana, os estudos com camundongos empregam animais geneticamente idênticos (clones), ou seja, MHC-idênticos, o que permite a livre transferência de células, tecidos e órgãos entre os animais na ausência de rejeição imunológica, incluindo a transferência de células-tronco embrionárias a animais adultos.
Portanto, a celeuma é meramente científica: dentre os embriões congelados já existentes e eventualmente liberados, quantos seriam HLA-idênticos a um determinado paciente para que a terapia fosse eficaz? A literatura relata que tal probabilidade, entre dois indivíduos não-aparentados, varia de 1:250.000 a 1:1.000.000.
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Devemos apoiar, portanto, as pesquisas com células-tronco ADULTAS, incluindo as células iPS que tiveram seu potencial de uso em terapia recentemente comprovado, pois sendo células autólogas (derivadas do próprio paciente/deficiente físico) não precisam enfrentar a rejeição imunológica, e a sua utilização para tratamento de doenças graves independe da aprovação do Artigo 5º da Lei de Biossegurança.
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Recomendo a leitura de um bom livro atualizado de Imunologia, tal como o livro "Imunologia Celular e Molecular" (Abul K. Abbas, Andrew H. Lichtman e Shiv Pillai - 6a. ed., 2007 - Editora Elsevier), para melhor compreensão dos mecanismos imunológicos pertinentes; por exemplo: distinção entre barreira alogênica e barreira xenogênica.
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Agradeço a consideração, mas prefiro que o próprio autor se manifeste a respeito, pois o RG mencionado em seu trabalho pode ter outra conotação que não a do HLA.
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Três grupos de cientistas (Takahashi et al., 2007; Yu et al., 2007; Park et al., 2008) já anunciaram que as equivalentes em humano, as Células Humanas iPS, também estão chegando.
As células humanas iPS são similares às células-tronco embrionárias, porém são derivadas de células (ex: da pele) do próprio indivíduo (paciente/deficiente físico) e portanto não terão que enfrentar a barreira alogênica ao serem utilizadas como tratamento/terapia.
Profa. Dra. Zulma Peixinho
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A rejeição de aloenxerto (transplante entre humanos) é causada por diferenças entre o RG biológico (HLA) do doador e do receptor. Os genes HLA que codificam para as moléculas na superfície das células são transmitidos por herança Mendeliana simples, ou seja, metade do material genético nós herdamos do pai e a outra metade, da mãe. Dentro de uma mesma família, existe então a probabilidade de 25% de dois irmãos serem HLA idênticos, isto é, de compartilharem o material recebido do pai e da mãe, tornando possível a seleção de um irmão para doar medula óssea (células-tronco adultas) para transplante. Entre indivíduos não aparentados, contudo, esta probabilidade varia, de acordo com a literatura científica, de 1:250.000 a 1:1.000.000.
A mesma regra imunológica deveria ser aplicada para terapia com células-tronco embrionárias, o que inviabiliza sua aplicação para tratamento.
Já nos casos de transplante de órgãos sólidos (ex: coração, rim), as drogas immunossupressoras atuais são capazes de controlar a agressividade do sistema imunológico do receptor contra o enxerto, permitindo que o requisito de compatibilidade HLA entre doador e receptor seja bem mais flexível.
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