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15/02/2008
Carta da semana


Nossas virtudes e nossas vergonhas presas no mesmo texto de jornal


“Riquezas e belezas fazem deste solo, o berço esplêndido onde está deitada uma das maiores economias do planeta. A despeito da inércia, da corrupção em níveis vexatórios e da desigualdade, o Brasil apresenta avanços que mais parecem milagres, mas são apenas provas da qualidade de sua gente e da generosidade da natureza.

Competência e recursos em abundância fazem da nossa terra um país raro. Um lugar de onde muito minério é extraído e exportado, mas que também produz o aço, desenha e fabrica o carro. Produzir grãos com as nossas condições é para poucos. Extrair petróleo em águas profundas e abastecer a imprensa com sucessivas descobertas de novas reservas me orgulha.

Podemos render conversas intermináveis em mesas de boteco se estiverem na pauta nossas qualidades e nossos defeitos. Inclusive, me bateu uma ressaca quando li uma matéria na “Folha de S.Paulo” e vi as duas coisas juntas: nossas virtudes e nossas vergonhas presas no mesmo texto de jornal.

“PPPs de prisões movimentam empresas”, é o título impresso no caderno “Dinheiro” da “Folha” (07/02/2008). A matéria, como se vê, trata da exploração de presídios via Parceria Público-Privada (PPP), atividade que vem crescendo e atraindo companhias interessadas em lucrar com um dos subprodutos do crime: o preso.

Segundo o jornal, Minas Gerais pretende repassar até R$ 78 milhões ao ano para a empresa vencedora da PPP, que deve durar até 27 anos - está aí o retrato de uma economia madura e diversificada. O Brasil gasta R$ 4,8 bilhões ao ano com seus detentos - estão aí os frutos das citadas inércia, corrupção e desigualdade. O avanço e o descaso se ignoram, até se cruzarem para produzir um resultado bizarro.

Sem falso moralismo, fico pensando em como seria se, há décadas atrás, valores como esses fossem destinados para a criação de mais escolas ou para saneamento básico. Vejo a proposta das PPPs para prisões como uma boa saída. Não questiono a boa fé nem a razão de existir do projeto e de quem o implanta. Só espero que o Brasil não fique preso a esse negócio cada vez mais ‘promissor’.”
Bob Villela, publicitário e especialista em marketing - bobvillela@hotmail.com

CIDADÃO JORNALISTA é um espaço destinado aos leitores e ouvintes que, ao relatarem fatos e experiências de sua cidade, comunidade e cotidiano, tornam-se repórteres por um momento.

 
 

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