Jovens
orientais e latino-americanos disputam seu espaço no apertado
mercado de trabalho brasileiro
Vinte e poucos
anos, em busca de novas oportunidades, de repente, vem a idéia
de ir trabalhar em um outro país. Mas qual? Fácil:
o Brasil. Após esse susto que você tomou, é
bom saber que há outros povos que vêem no Brasil um
negócio da China. Como os chineses, por exemplo.
Quem leu algum
jornal nos últimos cinco anos deve saber que a China está
em ascensão no mercado internacional, após abrir suas
fronteiras para o comércio mundial. Então, qual o
motivo de eles estarem vindo para cá? Wing Zhun, 25, diz
que é porque no Brasil se gasta menos dinheiro. "Lá
só se ganha o de comer", completa. Vivendo no Brasil
há dois anos, ele trabalha no comércio de relógios
em uma das centenas de barracas da r. 25 de Março, no centro
de São Paulo.
Da mesma opinião
é a chinesa Kim ("só Kim mesmo"), 23, que
está aqui há seis anos. "Os brasileiros são
meio preguiçosos, não querem trabalhar aos domingos",
reclama Kim, trocando os erres pelos eles. Ela é balconista
em um pequeno estande, como a maioria dos novos imigrantes chineses
que estão no Brasil.
Segundo o presidente
da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Andrew
Tang, o governo chinês desenvolve a política de encorajar
o empreendedorismo de seus jovens em terras estrangeiras.
Só que
eles nunca vêm sozinhos. Os imigrantes do Oriente só
aparecem por aqui depois que alguém da família já
abriu o terreno. E, de forma geral, vivem isolados em suas comunidades.
A língua
é o principal obstáculo, o qual eles quase sempre
não conseguem vencer. A maioria só aprende o mínimo
de português para usar no comércio. Essa dificuldade
tornou comum a utilização de pequenos dicionários,
que servem como guias, onde se encontra o nome das mercadorias em
português e em chinês e o valor correspondente. Outra
situação curiosa pela qual passam os jovens imigrantes
chineses é o rebatismo.
Como seus nomes são de difícil entendimento para os
brasileiros, eles escolhem nomes "populares" na nova terra.
"Alex"
Chang, 21, por exemplo, foi rebatizado bem na frente da reportagem
do Folhateen. Ganhou seu novo nome de uma colega de trabalho numa
lojinha de equipamentos fotográficos.
Além
dos músicos de países andinos que se apaixonaram pelas
praças de grandes cidades de todo o Brasil, alguns de nossos
vizinhos latino-americanos se encantaram com o modo de viver dos
brasileiros e decidiram tentar a vida por aqui. É o caso
do chileno Miguel Reyes, 23, que vive no Brasil há cinco
anos e que trabalha na área técnica de uma seguradora.
Ele afirma que desde pequeno se fascinou com a língua portuguesa
e que no Brasil se sente mais à vontade que no Chile.
"Há
coisas na mentalidade chilena que me chateiam. Eu percebi que minha
personalidade não batia com a dos chilenos", afirma
Reyes. E comprova, já que foi no Brasil onde ele encontrou
sua mulher. Hoje, sobre o Chile, ele diz: "Só penso
em ir para lá fazer passeios".
O chileno foi
um dos muitos imigrantes a se beneficiar da anistia concedida, em
1998, pelo governo federal às pessoas que estavam clandestinas
no país. "Fiquei ilegal só por uma semana",
lembra.
Outro que também
gostou de cara do que encontrou aqui foi o colombiano Diego Rios,
24, que chegou ao Brasil há um ano e meio. Ele veio trabalhar
em um projeto de sua faculdade de economia em parceria com a UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Achei
muito interessante como o Brasil funciona", afirma. O que mais
chamou sua atenção foi a empatia imediata com as pessoas.
"Elas me trataram muito bem. Acho até que consegui coisas
de modo mais fácil por ser estrangeiro." Ele lembra
que, quando chegou, não falava nada de português, e
os brasileiros sempre davam um jeitinho para ajudá-lo. Agora,
é Rios quem dá aulas, de espanhol, enquanto acaba
a faculdade de economia. Mas pensa em retornar à Colômbia.
"Pretendo aprender mais aqui, ganhar experiência e depois
voltar para lá."
(Folha de
S. Paulo - 27/01/03)
|
|
|
Subir
![](../../images/sobe.gif) |
|
Ilegais se sujeitam até
a semi-escravidão
Carnaval, festa
junina, bumba-meu-boi são atrativos para estrangeiros conhecerem
e brincarem no Brasil. Mas o que não deve ser encarado como
brincadeira é a vinda de imigrantes ilegais para trabalhar
aqui.
Só pode
trabalhar quem tem visto de trabalho carimbado no passaporte. Turistas
e estudantes que tenham empregos, mesmo que sem carteira assinada,
podem ser deportados (enviados de volta ao seu país de origem)
assim que descobertos.
Logicamente,
não há dados oficiais sobre o número de imigrantes
que trabalham ilegalmente no Brasil, mas é só sair
às ruas comerciais do centro de São Paulo ou do Rio
de Janeiro para notar a quantidade de gente de outros países
trabalhando, principalmente no comércio de produtos estilo
"made in China".
Essa situação
acabou sendo o principal obstáculo encontrado pela reportagem
do Folhateen. A reação mais comum dos imigrantes (bolivianos,
chineses, coreanos e peruanos) era evitar a conversa desde o princípio
e simplesmente ignorar as perguntas.
"A maioria
dos estrangeiros que trabalha de forma exposta é porque já
tem permissão para fazer isso", diz o agente da Polícia
Federal Celso D'Arcke Brasil. Como eles conseguem essa permissão?
"No caso dos comerciantes chineses, o expediente mais comum
é eles chegarem ao Brasil em casais, com a mulher já
grávida. Daí, ela tem o filho aqui, o que garante
a permissão para os pais morarem e trabalharem no país",
esclarece.
Para a Polícia
Federal, o maior problema com a ilegalidade do trabalho de estrangeiros
é a situação dos bolivianos e dos peruanos,
que frequentemente são encontrados trabalhando em fábricas
improvisadas de confecções em regime de semi-escravidão.
"O pior é ver que essas pessoas preferem essa condição
a voltar para o seu país, onde passavam fome", diz o
agente. "Não sei se o mundo deveria ter fronteiras,
mas temos que ficar atentos para que esses casos não aconteçam
o tempo todo", argumenta.
(Folha de
S. Paulo - 27/01/03)
|
|
|
Subir
![](../../images/sobe.gif) |
|
|