mão-de-obra
02/05/2008

Seguradoras de crédito brigam por profissionais

O mercado de seguro de crédito começa a decolar no Brasil. Só em 2007, ele movimentou R$ 434 milhões e diante do forte momento de expansão já enfrenta um apagão de talentos. Com a entrada de novos players - a exemplo da companhia espanhola Crédito y Caución, que abriu escritório em São Paulo há um ano -, e a perspectiva de outra leva de multinacionais aportarem por aqui, está esquentando a disputa por talentos nos últimos 12 meses.

"Recentemente , tivemos a visita de três seguradoras estrangeiras de crédito interessadas em atuar no mercado brasileiro", afirma Armando Vergilio, presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep). "É a área que mais crescerá dentro do setor de seguros, por conta do reaquecimento da economia e o aumento do crédito". Vale ressaltar que o seguro de crédito é dirigido às operações de risco das empresas nas vendas a prazo de produtos ou serviços.

Essa falta de profissionais, entretanto, afeta não apenas as seguradoras como também as corretoras. Para driblar a escassez de gente especializada, a Coface, seguradora francesa controlada pelo grupo Natixis e que administra apólices superiores a R$ 21 bilhões no país, adotou a estratégia de procurar profissionais nos bancos. "Eles possuem um perfil mais agressivo, muito próximo daquilo que queremos ter em nossas equipes", ressalta Fernando Blanco, presidente da subsidiária. "São profissionais que sabem avaliar o potencial de negócios, estão ligados ao que acontece no cenário local e mundial".

O próprio Blanco foi "caçado" do mercado financeiro pela Coface há um ano e meio. Com uma trajetória de 20 anos na área, o executivo ocupava o cargo de diretor de crédito do ABN Amro quando, sem pestanejar, aceitou o convite para comandar a operação local da seguradora. "Troquei dinheiro por desafio", dispara. "Existe um enorme espaço a ser explorado". Em 2007, destaca, houve um crescimento de 13%, patamar que promete chegar a 25% este ano.

A mudança, para Blanco, representava um importante salto na carreira, já que a partir dali se tornaria presidente de um grande grupo. "É uma aposta que não tem preço. Dificilmente eu chegaria ao posto de número um no banco", explica. Mesmo que fosse necessário abrir mão de um salário atraente, já que na época a área financeira começava a dar sinais de aquecimento ao pagar bônus polpudos. "Hoje ganho 20% a menos", revela.

No mercado de seguro de crédito, aliás, o maior atrativo no pacote de remuneração não é a parte variável e sim o valor fixo. Ricardo Barcelos, gerente da divisão de seguros da Michael Page, consultoria especializada no recrutamento de executivos para média gerência, ressalta que essa política de priorizar o salário base no setor é um dos entraves na hora de se buscar gente dentro do mercado financeiro.

"Os bancos continuam pagando mais do que as seguradoras, exceto aquelas ligadas às instituições financeiras", diz. Muito embora acredite que com o crescimento do setor no país, as empresas passem a seguir as práticas adotadas por indústrias maduras, baseadas na performance do profissional, valorizando a remuneração variável.

Na Marsh, maior corretora de seguros do mundo, a demanda gerada pelos serviços de seguro de crédito e garantia (apólice que garante que uma obra será concluída) levou a empresa a adotar uma política salarial mais agressiva. Estratégia que visa reter os funcionários, sobretudo quando não existe gente sobrando no mercado e a luta com a concorrência é grande.

"Não há mais do que 30 profissionais especializados em seguro de crédito no Brasil", afirma Mariane Guerra, gerente de RH da Marsh. Em meio a essa batalha, a corretora resolveu apostar na formação de profissionais para suprir a escassez de mão-de-obra. Mas enquanto eles não estão prontos, a empresa continua recorrendo a prática de recrutamento no mercado. Recentemente, preencheu duas vagas que estavam em aberto, após meses de procura. Para tanto, chegou a "importar" talentos.

Foi o que aconteceu com o português Pedro Abrantes Pinheiro, "caçado" pela corretora em junho do ano passado. Profundo conhecedor do mercado de seguro de crédito, Pinheiro foi responsável por desenvolver essa área na região sul de Portugal, sete anos atrás quando trabalhava na Mapfre. Em 2004, foi convidado para vir ao Brasil, onde exerceu a posição de gerente comercial por dois anos. Pouco tempo depois, retornou à sua terra de origem, contratado pela filial da Crédito & Caución naquele país.

Há 10 meses, desembarcou em São Paulo, com a mulher, para ocupar a gerência comercial da Marsh. "Esse é um setor bastante aquecido, onde há assédio de outras companhias", observa. Apesar de reconhecer que o mercado brasileiro ainda é novo se comparado ao europeu, em que praticamente quase todas as empresas possuem seguro de crédito, a falta de talentos também atinge o mercado internacional. "A cadeira que deixei lá continua vazia, sem ser preenchida".

De olho no espaço que começa a surgir no mercado brasileiro, a Crédito Y Caución resolveu aportar por aqui há um ano, se tornando a primeira operação da seguradora espanhola fora da Europa. De acordo com o presidente, Jesús Angel Victorio Cano, a idéia é explorar melhor o setor, incipiente no Brasil. Para tanto, montou uma equipe de cinco profissionais, todos vindos de outras seguradoras de crédito.

Nos planos de Cano existe a possibilidade de ampliar o quadro no médio prazo, muito embora o principal celeiro de talentos, ressalta, não esteja nos bancos. Esquentando ainda mais a briga por profissionais no mercado de seguro de crédito. "Nosso crescimento no país vai depender de como o mercado vai se comportar", salienta o executivo.

Se depender disso, a Crédito Y Caución certamente verá seu sonho de expansão sair do papel. Semana passada, mais uma empresa surgia no mercado, movimentando o setor. O Banco Fator anunciou sua entrada no mercado de seguros, com a criação da Fator Seguros, em junho. A seguradora começa a operar com 20 funcionários e tem a meta de arrecadar R$ 43 milhões nesse primeiro ano de operação. O foco serão os seguros de crédito, garantia e responsabilidade civil.

Espera-se ainda uma maior ebulição no mercado no mês que vem com a aquisição de 75% da SBCE (Seguradora Brasileira de Crédito Exportação) pela Coface. A seguradora, que hoje detém uma participação de 27,5%, passará a ter o controle, com a compra das fatias dos sócios: Unibanco AIG, Bradesco, SulAmérica e Minas Brasil. Os outros 25% continuam nas mãos do BNDES e do Banco do Brasil. Segundo Blanco, presidente da Coface, com a operação o número de funcionários subirá dos atuais 49 -o dobro em relação a 2006 - para 90.

Por Andrea Giardino,
(Colaborou Altamiro da Silva Júnior)
Valor Econômico

   
 
   
 

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