pesquisa folha
18/04/2008

Estudo entra nas casas e descobre violência infantil

Erika Vieira


Cerca de 20% das crianças são vítimas de agressões graves como sufocamento, espancamento, queimaduras, fraturas e outros tipos de lesões. O índice foi levantado em um estudo que foge dos padrões usados no Brasil até hoje. Os pesquisadores visitaram as casas da periferia de Embu, região metropolitana de São Paulo, em busca de casos de violência infantil. Geralmente esse tipo de pesquisa é elaborada a partir de dados oficiais, não sendo possível retratar o quadro mais abrangente, pois grande parte dos casos não chegam até os pronto-socorros, delegacias ou centros de amparo a criança e ao adolescente.

Intitulado de “Punição física grave e problemas de saúde mental em população de crianças e adolescentes economicamente desfavorecida”, realizado por pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Mackenzie e Columbia University (EUA), o estudo é um piloto que analisou 90 casos. Uma pesquisa maior, nos mesmos moldes, já encontra-se em andamento com 800 casos. Por enquanto, os resultados pré-liminares estão sendo iguais ao do piloto, segundo a pesquisadora da Unifesp e professora do programa de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Cristiane Silvestre de Paula.

“O caso da Isabella é um exemplo extremo desse tipo de agressão”, diz a pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo e professora do programa de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Cristiane Silvestre de Paula. Segundo o estudo, a mãe é tida como a principal agressora porque é a pessoa que fica mais tempo com a criança. A agressão, geralmente, está ligada a educação. “A mãe diz que não bate no seu filho para machucá-lo, mas sim para educá-lo. Um exemplo é a mãe que queima o filho com ferro quente para ele aprender a não tirar mais dinheiro da carteira. As mães entendem que fazem isso para educar.” Silvestre complementa: “no mundo a classe baixa e as mães solteiras são os grupos de maior risco, mas no Brasil ainda não há um estudo oficial que se comprove isso.”

Outro dado levantado foi que o número de crianças agredidas é maior entre as de sexo masculino. Diferente do abuso sexual que atinge mais adolescentes do sexo feminino.

A população alvo do estudo foi a de baixa renda por viverem em um contexto mais violento. “As taxas de homicídios são maiores nessas regiões, as crianças ficam mais expostas a situações de risco.” Também há maior número de casos porque são menos denunciados em função das crianças ficarem a maior parte do tempo em casa e não irem a médicos, escola, serviços de lazer, lugares onde terão profissionais para diagnosticar sinais de agressão e denunciar. “Muitas vezes, os vizinhos são as únicas testemunhas, mas preferem não denunciar por achar que se trata de um problema de família. Assim, a violência doméstica infantil é torna-se mais velada que a violência urbana”, conclui Silvestre.

Veja na íntegra: Punição física grave e problemas de saúde mental em população de crianças e adolescentes economicamente desfavorecida.


Leia também a pesquisa "A ponta do iceberg", realizada pelo Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), da USP com dados de 1996 a 2007, em todos esses anos foram notificados 159.754 casos de violência doméstica infantil.

   
 
   
 

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