B. Nenhum trabalhador sem emprego!
O desemprego é o drama de praticamente todas as famílias trabalhadoras e dos
jovens no país. Todas as famílias têm alguém desempregado, quando não são
todos que estão nesta situação. O índice de desemprego está em torno de 20%
dos trabalhadores nas grandes cidades, chegando a 27% em Salvador.
Basta ver a evolução do gráfico para verificar que a situação está piorando
a cada ano. Só em São Paulo existem 1,9 milhão de desempregados. No total,
em todo o país, temos cerca de 13 milhões de desempregados.
O último censo de 2000 revelou um crescimento explosivo do desemprego também
no campo. Mesmo com a metodologia do IBGE, que apresenta sempre índices
menores de desemprego que o DIEESE, na Região Norte, o desemprego urbano é
de 11,37% com a pesquisa da Pnad - a desocupação total (incluindo áreas
rurais dos sete Estados) fica em 15,65% no Censo de 2000.
A combinação do racismo com a exploração capitalista faz da situação de
negros e negras (que, no nosso entender compreende todos que se declaram
negros ou mestiços) algo particularmente terrível. De acordo com o Mapa da
População Negra no Mercado de Trabalho - elaborado pelo Instituto Sindical
Interamericano pela Igualdade Racial, com o apoio do Dieese - nas principais
regiões metropolitanas do país, 50% dos desempregados são negros, o que
correspondia à cerca de 1,5 milhão de pessoas, em 1998. Em Salvador, os
negros são 86,4% dos desempregados e, em Recife e no Distrito Federal, cerca
de 68%. Em São Paulo, representam 40% dos desempregados.
Além disso, detectou-se também que, em média, a taxa de desemprego entre
negros e negras é cerca de 40% maior do que aquela verificada entre brancos.
Em Salvador, por exemplo, enquanto 17,7% dos não-negros encontravam-se
desempregados em 1998, a taxa entre negros e negras era de 25,7% e, em São
Paulo, esta relação é de 16,1% para 22,7%. Isto, evidentemente, exige
políticas específicas de combate ao racismo no mercado de trabalho.
A situação vai se agravar ainda muito mais, caso a ALCA seja imposta ao
país. Na Argentina, onde foi implementado um plano econômico que se aproxima
do que seria a ALCA (com a semidolarização da economia, a privatização
completa das estatais, a flexibilização dos direitos trabalhistas), o
desemprego passou de 6-7% para 30%. No Brasil, podemos prever índices de
desemprego ao redor de 40% ou 50%.
É uma completa hipocrisia falar em resolver o problema do desemprego do
país, como fazem os políticos em época eleitoral, sem mudar o modelo
econômico, sem romper com o imperialismo, sem atacar os lucros dos patrões.
Serra fala em criar 8 milhões de empregos, sem dizer porque FHC também
prometeu 7,5 milhões de empregos nas eleições passadas, com o mesmo modelo
econômico e o desemprego aumentou de lá para cá. Lula também defende a
criação de 10 milhões de empregos, mas ao mesmo tempo não se dispõe a mudar
o modelo econômico e deixar de pagar a dívida.
A primeira medida para enfrentar e acabar com o desemprego seria a imediata
deflagração de um Plano de Obras Públicas Populares. O carro-chefe desse
plano de obras públicas seria um plano de construção de moradias populares
para suprir o déficit habitacional de 5,4 milhões de moradias. Com esse
plano se poderia criar milhões de empregos para a população desempregada.
Quem pagaria a conta desta vez não seriam os trabalhadores, mas os grandes
banqueiros. O plano seria financiado pelo dinheiro do não pagamento das
dívidas interna e externa. O núcleo central do plano, com as casas
populares, custaria em torno de 81 bilhões de reais a preços de hoje.
Aplicaríamos outros 90 bilhões de reais para obras de saneamento, como a
instalação de rede de água e esgotos em bairros populares; construção de
escolas e hospitais; obras contra a seca no Nordeste; ferrovias e obras de
transporte urbano como o metrô e os trens urbanos.
O direito ao trabalho é um direito mínimo em uma sociedade capitalista, é o
direito a ser explorado. E mesmo este direito hoje é negado a um número
crescente de trabalhadores.
Se existe um avanço tecnológico, isto deve servir para diminuir a carga
horária de todos os trabalhadores e não para tirar o emprego de milhões. É
necessário que as horas de trabalho disponíveis sejam divididas entre todos
os trabalhadores. Como uma medida neste sentido, a redução da jornada para
36 horas semanais sem redução do salário, permitiria absorver 6 milhões de
desempregados. A redução das horas trabalhadas não seria acompanhada da
redução dos salários porque a classe trabalha-dora já arcou suficientemente
com o peso da crise econômica. Agora, de novo, seriam os capitalistas e não
os trabalhadores a assumirem os custos da crise que eles mesmos criaram.
A estabilidade no emprego é outra medida para o combate ao desemprego. Os
patrões seriam proibidos de demitir, e os que assim o fizerem terão suas
empresas expropriadas. Os defensores do capitalismo argumentam que, com a
estabilidade, se diminuiria a eficiência das empresas. Seria melhor dizer
que seria reduzido o lucro das empresas, na medida em que não possam demitir
para empregar novos trabalhadores com salários menores. Mas, a preocupação
essencial deve ser a eficiência da sociedade, não só para a produção, mas
também para resolver o gigantesco problema social do desemprego.
A reforma agrária ampla e radical permitiria dar emprego aos camponeses
expulsos de suas terras que vivem nas periferias das grandes cidades.
Essas quatro medidas (o plano de obras públicas, a redução da jornada para
36 horas, a estabilidade no emprego e a reforma agrária) possibilitam dar
emprego para os 13 milhões de desempregados deste país. A diferença nossa
com plano de Lula ou de Serra não é somente em relação ao número de empregos
que cada um defende. Nós afirmamos que as propostas dos dois são
completamente irreais, ao não mudar o modelo econômico, não enfrentar as
grandes empresas. Para que os trabalhadores ganhem, alguém tem que perder, e
nós dizemos a verdade: que os burgueses paguem pela crise que criaram.
Até que esse plano seja totalmente implemen-tado, defendemos que os
desempregados sejam isentos de pagar suas contas de água, luz e impostos
como o IPTU. Até que consiga acabar com o desemprego, o Estado deve garantir
o seguro-desemprego por dois anos, o transporte gratuito e cestas básicas
para todos os desempregados.
Já dissemos que não somos contra a introdução de novas tecnologias. Somos
contra os efeitos que estas novas tecnologias causam sobre a economia
capitalista, ao reduzir empregos e não melhorar a qualidade de vida dos
trabalhadores. Somos contra, no entanto, a algumas tecnologias que não
melhoram em nada a produção ou os serviços, só servindo para reduzir
mão-de-obra, como as catracas eletrônicas nos ônibus.
Defendemos também a estabilidade até a aposentadoria para os trabalhadores
lesionados no trabalho, e aqueles que sofreram acidentes de trabalho.
O PSTU defende também a expropriação sem indenização e estatização sob
controle dos trabalhadores, das empresas que entrarem em falência. Os
trabalhadores não são responsáveis nem podem ser responsabilizados pelos
fracassos dos capitalistas em enfrentar a crise econômica e os seus próprios
concorrentes. Para os trabalhadores, o trabalho é uma questão de vida ou
morte. Trata-se de defender sua sobrevivência e de sua família.
Não se pode subordinar o interesse dos trabalhadores em manter seus postos
de trabalho aos interesses de um burguês individual que demite para
preservar seus lucros, nem tampouco aos problemas do capitalista incapaz de
sobreviver à crise.